Tivemos o grande sucesso de Parasita, o quê talvez tenha feito algumas pessoas olharem para o cinema sul-coreano. Levando isso em consideração, tenho uma ótima recomendação que foi lançada lá nos confins de 2010.
Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você. – Friedrich Nietzsche
Em Eu vi o diabo ( em inglês: I saw the devil e originalmente 악마를 보았다), temos uma jovem que está parada na estrada em uma noite muito fria. Ela espera por ajuda mas quem aparece é Kyung-chul, um serial killer que especificamente mata jovens mulheres como ela. E é o que acaba ocorrendo da pior forma possível. Quando o corpo da jovem é encontrado, seu noivo Soo-hyun, um agente secreto do Serviço de Inteligencia Nacional da Coreia do Sul (NIS), só encontra uma forma de resolver aquilo. Vingança.
É curioso como o filme parece sobre a caça a um serial killer. Mas a forma como esta perseguição ocorre, o transforma em um ode a violência e a vingança.
O diretor deste filme, Kim Jee-woon, que tem outra obra que também merece recomendação chamada “Medo – A tale of two sisters”. Confesso que ao descobrir isso, fiquei meio em choque. São dois ótimos filmes mas bem diferentes. Me pergunto o quê mais poderia encontrar na filmografia deste diretor (se conhecer, aceito recomendações).
Mas voltando ao Eu vi o diabo, temos um embate entre opostos. Um serial killer, que representa o que tem de pior no ser humano. Inclusive sua aparência é horrível e todo seu ritual de matança é de revirar o estômago.
E um jovem que tem um treinamento como agente do governo, que está prestes a casar e tem sua amada noiva morta. Ele tem uma aparência perfeita, parece que só quer fazer o bem e busca justiça no mundo.
Mas ele escolhe mergulhar nas profundezas do pior que a vingança pode trazer e se mostra tão violento e sádico quanto aquela figura horrorosa. O sadismo não tem aparência aqui, mas as motivações são diferentes.
Qual a motivação do serial killer? Seria ele incapaz de ser de outra forma? E o bom rapaz justiceiro? A vingança lhe permite carta branca para fazer a barbaridade que quiser? Não poderia ele acompanhar a justiça da polícia ou a quem cabe resolver isso?
Nos vemos num embate mental entre aquele assassino que merece tudo de pior. Afinal, ele faz coisas horríveis, estupra, mata e mutila jovens. Mas quem decide a punição daquele homem? O noivo de uma das vítimas ou o sistema? Olho por olho, dente por dente?
No fim, o quê encontramos no decorrer do jogo de caça e rato entre assassino e vingador? Temos uma explosão de mais e mais violência que não escolhe quem atinge. A violência que os dois causam, se espalha por tudo que está ao redor deles. Quem escolheu ou quem não escolheu a violência.
O filme devido a essas características, nos traz cenas de violência absurdas, protagonista e antagonista quase parecem personagens impossíveis de tão inteligentes e capazes que são. Mas isso não chega a incomodar, justamente por que os dois se equivalem, então acaba sendo tudo muito divertido. E violento, muito violento.