Danielle Delaneli*

Um dos motivos para Stephen King fazer tanto sucesso é sua capacidade de transformar o que é sobrenatural em realidade, mesmo com o autor deixando claro que o horror é ficcional. Impressiona o fato de sua obra atravessar gerações e conseguir ser atual e relevante. Tal sucesso deve-se a sua habilidade de compreender a mente humana e propor uma reflexão sobre a complexidade dessa mente atormentada.

O horror é uma ferramenta usada por King para explorar outros aspectos emocionais dos personagens. Através de histórias intensas que exploram medos e angústias, cria-se uma identificação no leitor fazendo com que este leitor viaje por diferentes emoções dentro de uma mesma história.             

Com uma obra imagética não foi difícil atrair cineastas interessados em adaptar suas obras para o cinema. Com isso suas histórias tornaram-se mais conhecidas pelo grande público, o que o torna um sucesso literário e também cinematográfico.                                                   

Uma bibliografia de sucesso que tornou-se uma filmografia igualmente bem-sucedida inclui O Iluminado, It: A CoisaCarrie, Louca Obsessão, A Torre Negra, Christine, O Carro Assassino entre muitas outras obras que impactaram a cultura pop ao longo dos anos. Além desses e outras dezenas de romances, Stephen King é autor de centenas de contos de sucesso.

Com uma grande quantidade de adaptações de suas obras para as telonas, o sucesso de King foi aumentando. O que prova que a literatura é uma excelente porta de entrada para o cinema, e este, uma bela vitrine para obras literárias principalmente quando são de qualidade como as do autor.

Uma particularidade das obras de Stephen King é trazer o sobrenatural como acessório para abordar temas sociais.

Em O Iluminado, por exemplo, temos uma abordagem do alcoolismo que gera uma crise familiar. É uma obra sobre um bloqueio de autor que trata também da loucura. Jack Torrence é um homem que sonhava ser escritor mas é medíocre e acaba tornando-se frustrado e caindo no alcoolismo. Mais tarde passa a culpar a própria família por seu fracasso, isolando-se dentro do isolamento do hotel para tentar escrever.   Com o tempo passa a ter um comportamento abusivo e mergulha por vontade própria na loucura. E quanto mais percebe sua falta de talento, mais mergulha na loucura e se afasta da família. Tal atitude, que é uma escolha do personagem, somada ao sobrenatural acabam sendo gatilhos para a insanidade que podemos encarar como uma fuga da realidade. 

O perigo representado por Jack Torrence é também a alegoria de uma mente entrando em colapso, ou seja, quanto mais ameaçador ele fica, mais a mente se perde.

E se nessa obra temos o isolamento de um escritor frustrado e consumido pelo fracasso, em Misery temos uma leitora que vive isolada tendo como único sentido na vida acompanhar a trajetória de sua personagem favorita, que dá título à obra. 

A solitária Annie Wilkes tem em Misery uma fiel companheira até que, ao socorrer o criador de sua personagem favorita, tem uma grande decepção: ele pretende matá-la. A loucura de Annie, tal como a de Jack, vai crescendo, tomando conta dela e interferindo em sua vida. Aliás, no caso de Annie também é retratada a obsessão.

Enquanto em “O Iluminado” temos a impossibilidade de encarar a realidade na figura de Jack, em Misery temos a representação da obsessão que leva à loucura. Essa obsessão pode ser entendida como alegoria da busca excessiva pelo sonho americano a qualquer preço. Sonho que, no caso de Jack não foi alcançado, fazendo com que se enterrasse no isolamento. Obsessão que impede Annie de se despedir de uma personagem, representando a dificuldade que algumas pessoas têm de seguir em frente.

Até aqui vemos apenas questões da vida adulta. Porém, King também aborda a juventude em suas obras.

Em It – A Coisa vemos crianças abandonadas à própria sorte, visto que poucos adultos aparecem e, quando isso acontece, demonstram certa hostilidade. Ou seja, negligência e abuso. 

Em Christine, o Carro Assassino podemos acompanhar a relação do jovem com o primeiro carro. 

Em Carrie temos a representação de momentos importantes na vida de uma jovem como a primeira menstruação e o baile de formatura. 

Qual a relação entre as três histórias? Uma fase de experiências pessoais importantes para o crescimento e construção da autoestima. 

Carrie tem ainda em comum com O nevoeiro o fanatismo religioso que pode arruinar o amor-próprio de uma jovem ou tirar a vida de um inocente.

Há ainda a relação com a morte abordada em Cemitério maldito (O cemitério). Na verdade a não aceitação da perda, o processo de luto e como lidar com a dor são o grande conflito da história. 

Temas sociais não faltam, pois King sempre usa dramas pessoais para produzir medo.

 

*Danielle Delaneli é professora, atriz, escritora, roteirista e produtora. Formada em Letras pela Universidade Estácio de Sá. Pós-graduada em Cinema e a linguagem audiovisual pelo Instituto Graduarte e em Jornalismo pela Faculdade Faveni.

Muito criativa, desde criança gosta muito de escrever. Tudo graças à sua mãe, responsável por suas maiores paixões: Literatura, Teatro e Cinema que hoje tornaram-se também seu trabalho, e seu pai que sempre a incentivou a estudar para alcançar seus objetivos.