Sempre que lança um novo filme de terror já aparecem as manchetes de que o gênero foi renovado, ou aquele título de reportagem que aparece ano sim e ano não: temos o novo exorcista. Quando vejo essas coisas mais me dou conta de que essas pessoas não assistem filmes do gênero, na verdade, me parece que vê um de qualidade bem questionável durante o ano e só. Quando vê um filme que é relativamente bom já fica dessa forma, soltando fogos e fazendo os click baits com títulos exagerados.

James Wan é um nome importante no cinema de horror. Com os filmes que fazem parte do universo Invocação do Mal ele influenciou toda uma leva dos filmes de terror estadunidenses, além de estar pessoalmente envolvido em muitos outros deles como produtor. A isso talvez se de o alvoroço em cima do seu novo filme, “Maligno”, que conta uma história sobre um amigo Invisível do mal.

Madison (Annabelle Wallis) está passando por um relacionamento abusivo, em uma situação em que sofre uma violência física ela deixa o marido fora do quarto e enquanto ele está dormindo lá fora acaba sendo morto. O assassino vai atrás de Madison fazendo-a com que ela acabe perdendo o seu bebê. E a partir daí ela começa a ter visões de alguns assassinatos cometidos por uma criatura monstruosa e ela assiste a tudo como se estivesse presente no momento.

Wan sempre foi bom em causar medo e criar cenas que nos deixam arrepiados e na sua nova obra não é diferente. Aqui inclusive ele consegue criar o susto e a repulsa não com o jumpcasre, como de costume, mas sim com as cenas grotescas e mais especificamente corporais que vemos na tela. A caracterização da criatura – chamada de Gabriel durante o filme -, por exemplo, é um dos pontos mais altos do filme. Não só visualmente, mas a própria concepção da origem desse monstro é algo aterrorizante. Talvez seja essa figura de Gabriel que muitos atribuíram referencias aos horrores corporais dignos de David Cronenberg.  Alias, nesse sentido, digo que sem essa concepção visual e do amigo invisível o filme não teria tido a recepção positiva que estamos vendo por ai. 

As cenas dos assassinatos são todas bem feitas visualmente e para além disso, criam uma nova roupagem sobre elas quando passamos a entender o que está acontecendo ali e por qual motivo Madison está assistindo tudo aquilo sem poder reagir. 

Por outro lado senti falta de desenvolvimento de motivações, principalmente da mãe de Madison, e talvez, um pouco mais sobre como a personagem se livrou de Gabriel da primeira vez. Tudo isso e algumas outras situações são comentadas apenas superficialmente, as vezes é só uma ou outra frase que faz uma alusão a esse passado, o que acabou deixando algumas pontas soltas para mim. 

“Maligno” não é o novo exorcista, não é a melhor produção de horror dos últimos anos e nem nada disso. É um bom filme, com uma boa história, que tem pontos altos e pontos baixos. Nesse grande mar de produções questionáveis de filmes de gênero feitos na pressa e de qualquer jeito, é compreensível que quando assistam um filme que minimamente atendam as boas expectativas, algumas pessoas exagerarem no que dizem sobre ele. Mas calma, esse não é nem o melhor filme do James Wan.