Quando podemos determinar que uma pessoa morreu? Quando seu coração para? Não sei se a pergunta é complexa demais para ser respondida então vou lançar outra igualmente difícil: quando podemos determinar o que é a vida? Quando uma pessoa está vivendo? Há uma forma de determinar isso? Essas perguntas foram parar na minha cabeça enquanto assistia “Cadáver Exquisito”, dirigido por Lucía Vassallo.

Uma pequena sinopse do filme e depois explico os devaneios do parágrafo anterior. Blanca (Blanca Nieves Villalba) é uma cientista e certo dia sua namorada, Clara (Sofía Gala Castiglione), a encontra desacordada na sua banheira, no médico descobrimos que Blanca está em estado vegetativo e não saberemos quando ela irá acordar.

Agora voltando aos devaneios sobre vida e morte, tecnicamente Blanca não é um cadáver, mesmo que ela esteja presa em uma cama em um estado vegetativo e desprovida de qualquer forma de vida, ela ainda está viva. Seu coração ainda bate, ela ainda respira, entre outras coisas, Blanca está lá e viva. Então, não é um cadáver.

Aqui entramos na segunda parte do longa. A primeira é o caminho que levou até o momento do encontro do corpo de Blanca na banheira e agora vemos o que será a vida depois do acontecido. Clara está desconsolada e procurando maneiras de manter Blanca viva dentro de si. Quando as lembranças não são mais suficientes, decide passar por uma metamorfose e se transformar na sua amada. Começa a frequentar e viver casa de Blanca, utiliza o celular dela e passa a ser fisicamente Blanca. E nós, que estamos assistindo, só resta ver atônitos toda aquela transformação.

Assistindo a isso me lembrei do clássico “Um Corpo que Cai” de Alfred Hitchcock, quando Kim Novak está aceitando se transformar na mulher amada de James Stewart. Com uma diferença, é claro, no filme de Hitchcock as duas eram a mesma pessoa, já no de Lúcia Vassallo não. Aqui a transformação acontece como uma forma possessiva de se ter uma pessoa que não mais pode ser possuída.

“Cadáver Exquisito” nos prende pela linha entre o amor e a possessão. O que estamos vendo ali é o ato de uma mulher apaixonada e que está com saudades, ou de uma pessoa que quer sentir novamente a sensação de possuir alguém? Cabe a subjetividade de cada um responder.