A Hora da Sua Morte é um filme dirigido por Justin Dec e conta a história de Quinn (Elizabeth Lail), uma enfermeira que por curiosidade decide baixar um aplicativo que revela com exatidão quanto tempo de vida seus usuários possuem. O filme segue o estilo de outras obras onde pessoas, por curiosidade ou por acidente, ativam uma espécie de maldição que as persegue e um a um os personagens vão morrendo de formas diferentes, criativas e geralmente bastante gráficas.
Sua trama se encaixa perfeitamente em uma fórmula que pode ser encontrada no texto de Noël Carroll, intitulado “Why Horror”, no qual ele diz que os filmes de horror, em sua maioria, possuem uma estrutura baseada na curiosidade, tanto do espectador, que mesmo sabendo das reações externas que vai sofrer, provocadas pelo medo e conteúdo gráfico dos filmes, continua a assistir, e do personagem principal que está em um jogo de procura e descobertas. Primeiro, o espectador descobre que algo está errado, enquanto o personagem ainda duvida da paranormalidade dos eventos, logo em seguida o protagonista finalmente descobre que sim, ele está em uma situação de perigo da qual não sabe como resolver, ele então encontra outros personagens para ajudar em sua busca atual que é sobreviver. Depois ele desvenda o perigo que o aflige, para então achar um modo de solucionar o problema e por fim executar o plano e enfrentar o inimigo, retornando para seu estado de calmaria do início do filme, para que nos últimos segundos ele descubra que sua vitória não foi tão bem sucedida assim, ou outra possibilidade de final é o protagonista perder a luta para o que o assombra.
E assim segue A Hora da Sua Morte com bastante exatidão e fidelidade à esta estrutura, não é um problema agarrar-se a fórmulas já estabelecidas, contudo, é importante se atentar ao fato de que elas podem estar desgastadas e decidir rumar por elas faz com que seja preciso que a estrutura do filme seja recheada de um conteúdo bom, que pelo menos entretenha a quem assiste. O que não ocorre nesse caso, ele além de se apegar a uma estrutura repetitiva, ele não traz nada muito novo ou relevante para que o filme seja pelo menos divertido. O que mais incomoda é o fato de ele tentar durante a narrativa tratar de assuntos sérios como assédio no ambiente de trabalho, por exemplo, usando-o como subterfúgio para alguns acontecimentos ao final da trama, e ele não se aprofunda de forma consciente no tema que demanda maturidade ao ser discutido.
A forma como o enredo é conduzido também se limita a criação de setups que culminam no clássico, mas também batido, jump scare. Mesmo fazendo sentido para a trama, pois a pessoa que quebra as regras do aplicativo fica amaldiçoada e o demônio quer aproveitar o pouco tempo de vida que elas têm enlouquecendo-as. As sequências são montadas de forma muito pobre criativamente, levando o filme a um lugar comum como outras obras que prezam mais o susto do que uma narrativa e composição potentes de planos, ou então que pelo menos divirta e não faça parecer que foi um tempo desperdiçado por parte de quem assiste.
Nem mesmo as mortes presentes no filme são gráficas ou criativas, como por exemplo as que vemos em Premonição, elas são executadas fora do plano – não aparecem em tela – talvez para manter a censura mais branda e alcançar mais pessoas, contudo a violência em um filme com um pressuposto como o dele é essencial, pois um dos objetivos do enredo é aterrorizar os protagonistas que terão o mesmo destino, por consequência colocando medo e desgosto em quem assiste.
O filme não é de todo ruim, o roteiro tem uma certa coerência e respeita muito bem as regras que ele mesmo cria, sabendo inteligentemente resolver a maldição adquirida por quem baixa o aplicativo e quebra o contrato de usuário. O fato de Quinn ser uma enfermeira e trabalhar em um hospital agregam e muito para a história que está querendo ser contada e a forma como ela será resolvida. Portanto, é notável que houve um tratamento do roteiro e uma escrita bem pensada nos detalhes relacionados a fábula do filme, ou seja, a história do aplicativo, os porquês e o funcionamento do software e da criatura que está por trás dele, isso é tudo muito bem feito, contudo muito mal utilizado por conta do exagero de clichês e da infantilidade do restante da trama que não consegue achar um equilíbrio entre se levar a sério – os personagens têm relações familiares traumáticas rasas, falta de profundidade nos assuntos que parecem jogados – ou ir para o lado da galhofa e assumir o absurdo de um aplicativo que mata pessoas que quebram suas regras. O filme possui alguns tons cômicos envolvendo dois personagens, que são engraçados, contudo pela falta de conexão entre os elementos jogados na trama, eles ficam sobressalentes.
A Hora da Sua Morte é um filme que joga muito no seguro, sendo bastante tímido quando procura alguma seriedade na trama por falta de coragem ou vontade de se aprofundar no que está sendo introduzido, tornando-o bastante esquecível e limitado a alguns jump scares sem graças. O universo criado em volta do aplicativo é interessante e possui uma certa inteligência de escrita, mas que não é suficiente para livrar a obra, que parece uma colcha de retalhos, de um destino no limbo junto com as dezenas de filmes parecidos que são produzidos anualmente.