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Cinefantasy – Retrospectiva Rodrigo Aragão, Parte 1

A décima edição do festival Cinefantasy teve seu início no dia 6 de setembro, e para abrir o festival houve a estréia, no cinema Drive-In do Belas Artes, do filme O Cemitério das Almas Perdidas do diretor Rodrigo Aragão, que também ficou disponível no dia 7 e 13 na plataforma “Petra Belas Artes À La Carte”. A nova edição não somente selecionou o novo filme do diretor como abertura, como também o escolheu como um dos homenageados do ano, tendo disponibilizado uma retrospectiva de sua filmografia no serviço de streaming do Belas Artes, plataforma na qual o festival está sendo realizado.

Rodrigo Aragão é um cineasta capixaba, que, segundo entrevistas cedidas na mini-série televisiva Trash! A Série, iniciou sua carreira pelo amor ao cinema fantástico que assistia quando garoto, querendo reproduzir tais obras e treinando efeitos especiais desde então, com as maquiagens da mãe e o que mais encontrava. Tal amor e comprometimento com o cinema fantástico é evidente em toda a sua filmografia, que teve seu início com curtas-metragem de baixo orçamento e foi reconhecida na estréia de seu primeiro longa-metragem, Mangue Negro, primeira parte do que seria uma trilogia de filmes.

Antes de falar sobre cada um dos filmes, que estará disponível na parte 2, que pude revisitar graças ao festival, acho importante apontar traços de sua direção que estão presentes em toda sua filmografia e que o tornam um diretor com um traço autoral e reconhecível por todos que assistem mais que um de seus filmes.

 

 

Sem exceção, todos os seus filmes contam com uma questão de brasilidade, isso se dá pela escolha da temática, dos monstros abordados, mesmo que alguns deles não façam parte do folclore brasileiro, a forma como eles são representados dão conta de “abrasileirar” criaturas como zumbis, que não são exclusividade do Brasil por exemplo. Há uma atenção muito grande nos detalhes, provavelmente devido à uma preocupação com a recepção do filme nesse sentido de nacionalizar a obra, pois a localização e cenário, a forma como os personagens são retratados, inclusive no seu modo de falar e maneirismos, não nos transportam para outro lugar que não seja o Brasil.

Um outro ponto presente é a interiorização das narrativas, que remetem muito o interior da região Sudeste brasileira, que para mim que sou do interior de São Paulo são muito reconhecíveis, me fazendo lembrar de Festa Junina em diversos momentos de seus filmes. Não é uma novidade trazer costumes brasileiros à um filme de horror, já que Mojica desde  À Meia Noite Levarei Sua Alma introduz tal estética, além da Boca do Lixo e o terrir de Ivan Cardoso que “abrasileirava” o horror internacional através da paródia. A influência destes dois diretores e de outros que já faziam filmes de terror antes de Aragão são claras em sua obra, entretanto, a regionalização de sua obra e a preocupação com esta identidade brasileira se recombina com estas influências gerando um resultado único com uma identidade própria, denotando a mão autoral que o diretor tem ao conduzir suas narrativas.

Rodrigo Aragão não representa o Brasil apenas na temática e narrativa mas também faz isso através da forma fílmica que evoca um resultado que faz uma breve homenagem ao cinema marginal, importante movimento cinematográfico no Brasil da década de 60, do qual Mojica fez parte e outros nomes importantes como Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha). Tais referências e inspirações expostas no filme são trazidas pelo tom de auto-ironia que o diretor imprime em suas narrativas, auto-ironia essa representada pelo humor que se dá não somente pela homenagem ao filme b de horror, mas também pela crítica política e social ácida que seus filmes trazem.

 

 

A violência expressa pelo gore e os baldes de sangue em cena misturado com as cenas de erotismo e diálogos dotados de gírias e palavrões, demonstram essa rebeldia e crítica do diretor com a política, e com os cânones de um cinema clássico, mesmo que os filmes sigam um padrão de montagem e ferramentas narrativas para conduzir o conteúdo. O caráter auto-irônico e marginal de seus filmes revelam uma consciência crítica e política de luta através da arte, que tornam seus roteiros relevantes para a época em que foram produzidos mas que também são muito atuais. Políticos depravados exploram o povo miserável e causam horrores tanto em 2008 quanto em 2020, o fanatismo religioso ainda é um problema no Brasil nesses doze anos da filmografia de Aragão, patentes militares ainda fazem mau uso de seu poder através da opressão, os problemas ambientais causam consequências catastróficas para as vidas animais e humanas mas ninguém poderoso parece ligar.

Revisitar alguns de seus filmes agora em 2020, durante uma pandemia, com o pantanal em chamas, vendo o fanatismo religioso crescer cada vez mais nas televisões, redes sociais e ambientes familiares e tornando-se cada vez mais violento e ainda acima de tudo isso poderosos no governo que incentivam o que foi dito anteriormente através de propaganda e desmontes educacionais e culturais tornou a experiência assustadora.

Assistir estes filmes demonstrou o caráter atemporal de sua obra que parece ter até o dom da premonição, mas na verdade só denota capacidade de leitura da sociedade brasileira do diretor e como abstrair o mundo ao redor em fábulas fantásticas, ao mesmo tempo que homenageia o cinema nacional também traz muita inovação a filmografia brasileira, que serve de exemplo e inspiração para muitas pessoas, assim como eu, que querem entrar no ramo de produção audiovisual, mais especificamente no filme fantástico.

 


10º Cinefantasy começa no dia 06 de setembro com sessão de abertura no Belas Artes Drive-In e vai até o dia 20 no Belas Artes À La Carte

A 10a edição do CINEFANTASY – Festival Internacional de Cinema Fantástico será uma edição histórica. O Festival chega à sua décima edição, mesmo com os problemas causados pela pandemia de COVID 19, com uma seleção de 140 filmes, entre longas e curtas de 30 países e com uma grande novidade em tempos de pandemia: pela primeira vez no Brasil um festival de cinema tem sua abertura num cine drive-in, no caso, a pré-estreia mundial do filme O CEMITÉRIO DAS ALMAS PERDIDAS do diretor capixaba Rodrigo Aragão que acontecerá no Belas Artes Drive-in, dia 6 de setembro, e a partir do dia 7, até 20 de setembro, o Festival continua em uma versão online que será exibida no Belas Artes À La Carte.

O Cinefantasy recebeu, esse ano, a inscrição de 780 títulos, de 58 países e dos cinco continentes. E selecionou filmes como ANIMAIS ANÔNIMOS (Les Animaux Anonymes) de Baptiste Rouveure, que terá sua primeira exibição nas Américas representando a França com o primeiro longa-metragem do premiado diretor. Além disso, conta com première brasileira de 12 longas-metragens e de vários curtas-metragens, muitos inéditos no continente americano.

A edição deste ano tem uma marca muito especial de acordo com a diretora do festival, Monica Trigo, “Em meio à pandemia de COVID19 que mudou o comportamento e a economia do planeta, conseguimos construir um festival colaborativo no sentido de grandes parcerias, sem um único centavo de recursos públicos, mas tecido com muitas mãos generosas e qualificadas. Parceiros brasileiros e internacionais, uma plataforma consolidada e eficiente, o apoio da FANTLATAM – Alianza Latinoamericana de Festivales de Cine Fantastico. Teremos 140 obras e 14 dias de festival.”.

A 10ª edição conta ainda com o apoio do CTAv – Centro Técnico Audiovisual, da Mistika, da Elo Company e da AIC – Academia Internacinal de Cinema.

MOSTRAS COMPETITIVAS

Este ano as mostras competitivas do Cinefantasy estão mais politizadas, mas humanas e ao mesmo tempo sem perder o realismo mágico do gênero fantástico. Apresenta o cinema fantástico mundial com filmes de 30 países das mais diferentes culturas.

Dentre os inscritos foram selecionados 126 títulos, 20 longas-metragens e 106 curtas-metragens, vindos de 30 países. O Brasil está presente em todas as mostras com um total de 03 longas-metragens e 32 curtas-metragens. A Espanha é mais uma vez o segundo país com mais filmes em competição, com um total de 26 filmes e a França aparece com 11 filmes.

No terceiro ano consecutivo da Mostra Mulheres Fantásticas, a presença feminina se amplia: em 2018 foram exibidas 10 produções, em 2019 foram 27 e nessa edição, são 36 obras com mulheres na direção entre longas e curtas-metragens. O Cinefantasy se consolida com um festival fantástico que investe na presença e empoderamento das mulheres e suas narrativas.

Nesse momento de pandemia o Cinefantasy pensou num novo público e promove duas mostras competitivas inéditas: Pequenos Fantásticos, uma sessão para crianças composta por nove curtas-metragens (do Brasil, Argentina, Espanha, Taiwan e Suíça) com filmes falados em português ou sem diálogos. Já a mostra FantasTeen é voltada para o público adolescente e composta por dez filmes (do Brasil, França, Espanha, Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, República Tcheca e Taiwan).

O Cinefantasy contempla os melhores longas e curtas-metragens de fantasia, horror e ficção científica. Há categorias exclusivas de estimulo à cineastas brasileiros como a Mostra Brasil Fantástico para curtas nacionais. O título vencedor recebe como premiação da Mistika o serviço de encode DCP de até 15 minutos e do CTAv o empréstimo de uma câmera blackmagic e acessórios por duas semanas ou até 20 horas de mixagem. Este ano a AIC – Academia Internacional de Cinema premia o melhor curta-metragem estudante com uma bolsa integral para o Curso de Trilha Sonora e o melhor curta-metragem amador com uma bolsa integral para o Curso de Assistente de Direção. E todos os filmes de curta-metragem brasileiros, são analisados pelo júri da Elo Company e recebe como premiação a representação comercial no território nacional pelo período de 12 meses em diversas plataformas.

BRASIL NO CINEFANTASY

Os longas-metragens brasileiros são, TERMINAL PRAIA GRANDE, o primeiro longa-metragem da diretora Mavi Simão, exibido na Mostra Novos Rumos no Festival do Rio em 2019, SEU AMOR DE VOLTA (MESMO QUE ELE NÃO QUEIRA), do diretor paraibano Bertrand Lira, documentário vencedor de quatro prêmios do Festival de Vitória e o filme de horror CABRITO, primeiro longa-metragem do diretor mineiro Luciano Azevedo, que exibiu na sétima edição do festival o curta com o mesmo nome.

São 32 curtas-metragens brasileiros das cinco regiões do país presentes em todas as mostras competitivas, exceto na mostra Espanha Fantástica, com produções da Bahia, Brasília, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Maranhão.

LONGAS ESTRANGEIROS

O longa-metragem de fantasia EXÍLIO (Exile) do diretor grego Vassilis Mazomenos que faz sua première nas Américas, têm dois prêmios: melhor filme no Athens Panorama of European Cinema e segundo melhor filme no London Greek Film Festival. O filme conta a história de um homem que tenta sair do seu país e acaba voltando como um estrangeiro. É uma história de um Ulisses moderno. Vassilis Mazomenos também é escritor e produtor, além de membro da Academia Europeia de Cinema e da Academia Grega de Cinema, já dirigiu nove longas-metragens e produziu 40 curtas-metragens.

ANIMAIS ANONIMOS (Les Animaux Anonymes) de Baptiste Rouveure é o representante da França no 10º CINEFANTASY, no seu primeiro longa-metragem o diretor ousa num filme de 64 minutos, sem diálogos e onde os animais caçam os seres humanos. O filme teve uma potente pós-produção para criar a abordagem realística dos animais.

GEORGE HILTON – O MUNDO É DOS AUDAZES (George Hilton – Il Mondo è Degli Audaci) do diretor brasileiro radicado na Itália, Daniel Camargo é uma biografia do ator uruguaio George Hilton, um dos grandes nomes do western spaghetti e giallo. Através de sua vida e carreira, apresenta um panorama do cinema de gênero italiano.

O filme JIM BOTÃO E LUCAS, O MAQUINISTA (Jim Knopfund Lukas der Lokomotivführer) do premiado diretor alemão Dennis Gansel, responsável pelos filmes “A Onda” (2008), e “As Donas da Noite” (2010). Um filme para toda a família, baseado no romance de Michael Ende (História sem Fim) e narra uma aventura épica do órfão Jim Botão, seu melhor amigo e uma maria fumaça em uma viagem fantástica. O filme é inédito no Brasil e o diretor recentemente finalizou a continuação da obra.

LA PATALARGA é o primeiro longa-metragem de animação da diretora argentina Mercedes Moreira, que concorreu ao Prêmio Quirino de Animação Ibero-Americana de 2020, a história é de uma turma de amiguinhos que decide ver se é verdade ou não a existência de um monstro que assombra quem sai da hora da siesta.

REVÉS (Adverse) é o filme de estreia do jovem diretor americano Brian A. Metcalf, que já participou de diversos filmes exercendo funções na equipe de efeitos, em ”Harry Potter e o Cálice de Fogo” e “A Paixão de Cristo”, por exemplo e, como produtor associado no documentário “O Jovem Gandhi”. Seu filme tem no elenco Mickey Rourke (O Lutador), Penelope Ann Miller (O Senhor dos Anéis), Sean Astin (O Artista), Lou Diamond Phillips (La Bamba) e Thomas Ian Nicholas (Walt Antes de Mickey).

FANTÁSTICA DIVERSIDADE

A segunda edição da mostra de curtas-metragens Fantástica Diversidade tem nove obras com destaque para SEU DIA DE SORTE (Tu Dia de Suerte) do diretor Fele Martínez que já filmou com Pedro Almodóvar e POLTER de Álvaro Vicario, o filme que foi o grande vencedor do festival de Sitges em 2019. A sessão ainda tem a animação do diretor brasileiro radicado na Europa, Alexandre Siqueira com PURPLEBOY, obra que venceu o Anima – Brussels Animation Film Festival em 2019, foi exibido no Festival de Annecy e o diretor conta que a inspiração vem do livro “Viagem Solitária”, que retrata João W. Nery, o primeiro homem transexual com operação de redesignação sexual no Brasil.

PREMIÈRE E RETROSPECTIVA RODRIGO ARAGÃO

A sessão de Abertura do Cinefantasy apresenta no dia 07 de setembro às 20h o filme O CEMITÉRIO DAS ALMAS PERDIDAS do diretor Rodrigo Aragão que fará sua estreia mundial no festival. Na edição de aniversário, o Cinefantasy exibe ainda os cincos longas-metragens do diretor, a partir de MANGUE NEGRO (2008) que circulou por mais de 30 festivais no mundo, até o filme A MATA NEGRA (2018). Rodrigo lançou a antologia AS FÁBULAS NEGRAS (2015), último filme dirigido pelo cineasta JOSE MOJICA MARINS com o episódio O SACI.

CURADORIA E JÚRI

O 10º Cinefantasy recebeu a inscrição de 780 filmes de 58 países, em 12 categorias. O curador geral Eduardo Santana convidou 12 renomados profissionais do audiovisual para compor a equipe da curadoria: Alfredo Suppia, Ana Paula Nogueira, Camila Borca, Carlos Nazareno, Celso Duvecchi, Eduardo Santana, Filippo Pitanga, Francisco Gaspar, Kátia Nascimento, Marcelo Carrard, Marciel Consani e Monica Trigo.

O júri é composto por cineastas, pesquisadores, professores, programadores, atores, escritores, cinéfilos e gestores públicos. São 40 profissionais: Ana Paula Alves Ribeiro, Beatriz Saldanha, Carlos Primati, Celso Duvecchi, Celso Sabadin, Danielle Nigromonte, Dilson Neto, Dilvania Santana, Donny Correia, Emanuela Siqueira, Emerson Rodrigues, Gonçalo Junior, Hsu Chien, Ivo Costa, Julia Maria, Kátia Coelho, Kátia Nascimento, Leopoldo Tauffenbach, Lufe Steffen, Mara Ventura, Marcelo Miranda, Marcelo Müller, Marcos DeBrito, Maura Ferreira, Mayra Alarcón, Michelle Henriques, Pablo Ferreira, Paola Marcondes, Patrícia Oliveira, Paula Ferreira, Pedro Venceslau, Raphael Aguinaga, Ronald Perrone, Sabrina Paixão, Samantha Brasil, Tuna Dwek, Valdir Rivaben, Valeria Blanco, Vébis Jr e Washington Freitas, com a responsabilidade de consagrar o melhor filme de cada uma das 12 mostras competitivas.

FANTLATAM – ALIANZA LATINOAMERICANA DE FESTIVALES DE CINE FANTÁSTICO

Pela primeira vez no Brasil, é realizada uma mostra de curtas-metragens da FANTLATAM – Alianza Latinoamericana de Festivales de Cine Fantástico com filmes indicados por nove festivais membros. Uma oportunidade de conhecer os melhores filmes do universo fantástico da América Latina, em uma única sessão. Os filmes selecionados representam a produção argentina, brasileira, chilena, mexicana, panamenha e uruguaia.

A FANTLATAM é uma associação composta pelos mais representativos festivais – da América do Norte à América do Sul. O objetivo da federação é difundir o cinema fantástico latino-americano do continente, num intercâmbio entre os países e cineastas.

Segundo Monica Trigo, diretora do Cinefantasy e presidente da aliança, “A FANTLATAM nasceu para diluir fronteiras e construir pontes, colaborando com a circulação e difusão do audiovisual latino, respeitando as diferenças e reforçando as semelhanças. É muito importante receber a primeira Mostra FANTLATAM aqui no Brasil, sobretudo no atual momento, ela chega para expor a importância da unidade do cinema fantástico..”.

GILDA NOMACCE –A HOMENAGEADA

O CINEFANTASY homenageia a atriz Gilda Nomacce, que tem mais de 100 filmes na carreira, com destaque para “Quando Eu Era Vivo” de Marco Dutra, “Ausência” de Chico Teixeira, “Trabalhar Cansa” e “As Boas Maneiras” da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra, “Minha Única Terra é na Lua” de Sergio Silva; os recentes “Todos os Mortos” de Caetano Gotardo e Marco Dutra, Meu Nome é Bagdá da Caru Alves de Souza; os esperados “Casa das Antiguidades” de João Paulo Miranda Maria, “Adeus ao Comandante” de Sérgio Machado e “Obsolência” de João Marcos de Almeida.

A atriz também está presente no 10º Cinefantasy com o curta-metragem “5 ESTRELAS” de Fernando Sanches na mostra competitiva de Horror.

SERVIÇO

10o Cinefantasy – Festival Internacional de Cinema Fantástico

Quando: 07 a 20 de setembro de 2020

Local de Exibição: Belas Artes à La Carte  – www.belasartesalacarte.com.br

Quanto: assinatura da plataforma

Site oficial: http://www.cinefantasy.com.br/

 

Sobre o Belas a La Carte:

Planos de assinatura com acesso a todos os filmes do catálogo em 2 dispositivos simultaneamente.

Valor assinatura mensal: R$ 9,90 | Valor assinatura anual: R$ 108,90

Para se cadastrar acesse: www.belasartesalacarte.com.br e clique em ASSINE.

Ou vá direto para a página de cadastro: https://www.belasartesalacarte.com.br/checkout/subscribe/signup

Aplicativos disponíveis para Android, Android TV, IPhone e Apple TV. Baixe Belas Artes À LA CARTE na Google Play ou AppStore.

 

Belas Artes Drive-In

Onde: Memorial da América Latina – Entrada pela Rua Tagipuru, s/no. – Portão 2

Quando: desde 17 de junho, de terça a domingo

Horários e Classificação indicativa: consulte a programação

Ingressos e combos deverão ser adquiridos antecipadamente através do site do Petra Belas Artes

Valores de Ingresso: R$65,00 para carro com até 4 pessoas

Capacidade para 100 carros por sessão

Mais informações, programação completa e vendas através do site:

https://www.cinebelasartes.com.br/drive-in

 

Confira a vinheta do festival !

 


Fábulas Negras (2014) – Uma união de grandes diretores do cinema brasileiro

As Fábulas Negras é um longa-metragem lançado em 2014, tratando-se de uma compilação de cinco curtas-metragens dirigidos por Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e José Mojica Marins. Três diretores que tiveram origens parecidas e encaram a forma de fazer seus filmes de forma semelhante, artesanalmente, mão de autor, uso dos cânones do horror e a vontade de fazer e de criar um horror puramente nacional, se juntam com um dos predecessores do horror brasileira e provavelmente grande influência para eles: Mojica, o Zé do Caixão.

Como já dito trata-se de um longa metragem formado por curtas, As Fábulas Negras, idealizada por Rodrigo Aragão, traz filmes que tem o objetivo de recontar histórias do folclore brasileiro de uma forma subversiva e macabra. Um dos maiores méritos do filme é como ele consegue representar a cultura brasileira, sua regionalidade e variedade cultural de quase todo o país nos curtas, pois nada mais nacional do que o próprio folclore brasileiro. Os curtas são: O Monstro do Esgoto, por Rodrigo Aragão, Pampa Feroz, por Petter Baiestorf, O Saci, por José Mojica Marins, Loira do Banheiro, por Joel Caetano e Casa de Iara, por Rodrigo Aragão. Todos interligados por uma mini-trama em que crianças brincam e começam a contar histórias de horror da região quando passam por locais que os fazem lembrar delas, tudo isso com um imaginário puramente infantil, contudo subvertido pela dramatização com imagens cheias de violência e uma escatologia que parece adaptado do naturalismo literário.

A estética dos filmes segue um padrão, uma fotografia escura, amarelada, com uma cor de terra, remetendo ao interior dos estados brasileiros, local onde a ação da maioria dos curtas ocorrem, fazendo muito sentido com a sua temática, pois o interior do país é onde essas histórias são muito consumidas e compartilhadas formando um imaginário popular. A transição de histórias e planos se dá por um efeito de projetor mantendo grãos na imagem, conversando com a fotografia que dá um toque envelhecido para a imagem.

O Monstro do Esgoto, curta-metragem que abre a antologia é o único, entre os demais, que aborda uma crítica política. Ele repreende ferrenhamente, de forma cômica e irônica, a corrupção e mau uso do dinheiro público, principalmente em pequenas cidades mas que também cabe ao país como um todo, e ao sistema de serviços públicos ineficiente. É interessante como ele faz essa crítica, porque a direção usa de um elemento narrativo clássico do horror, que é a loucura causada por um evento sobrenatural, mas nesse caso a loucura do protagonista se dá pela ineficiência de um serviço público e a sensação impotência do personagem diante da situação que não consegue resolver, mesmo seguindo todos os procedimentos legais recomendados para a resolução do problema, ele é mal atendido pelos funcionários responsáveis, é obrigado a pagar multas, ou seja uma total situação de impunidade. Ao final o monstro que seu filho achou no encanamento não era o maior perigo do curta e sim o monstro que seu pai se tornou graças a ineficiência e desprezo do órgão público.

 

 

Sobre o monstro que o garoto guardava em uma caixa, deve-se notar uma reprodução de uma ferramenta clássica, muito utilizada em Friday the 13th (1980) entre outros filmes, a câmera subjetiva para não mostrar o monstro, utilizando do texto fílmico para dialogar sobre a máxima do horror que é o mostrar ou não mostrar, ou o quanto mostrar. Ele se mantém escondido até os minutos finais do curta, onde é um padrão ser a hora de mostrar, então temos os monstros e o gore sendo usados e abusados em tela.

 

 

Pampa Feroz, que vem em sequência, dirigido por Petter Baiestorf tem como característica ser bastante regional dentre os demais da coletânea, trazendo caricaturas típicas do Sul do país através do uso de signos muito característicos do lugar, como por exemplo a figura do gaúcho, grandes fazendas e trabalhadores delas, chimarrão, o sotaque e por fim o estilo caricato dos capatazes. A temática também se alia com o imaginário de um interior rural, pois a figura do lobisomem é parte de uma história que tem origem em meios rurais muito por causa do cenário e do que a imaginação pode inventar em locais isolados a noite.

 

 

O episódio é sobre uma dúvida instaurada na cabeça dos locais, onde uma fera matou um dos homens do dono da fazenda, e eles estão tentando descobrir quem é. A história faz um comentário crítico sobre preconceito religioso, visto que eles colocam a culpa em um senhor que mora nos arredores da grande, chamando-o de “macumbeiro”, então temos aí uma leve discussão acerca das origens do medo no que não conhecemos e como ele fica mais forte dentro de grupos que compartilham a falta de conhecimento sobre aquilo que é novo, neste caso, a intolerância religiosa.

 

 

O Saci dirigido por José Mojica traz uma releitura de um dos personagens mais clássicos do folclore brasileiro, desta vez com uma visão muito mais perversa. Novamente o “monstro” não é mostrado, e se assemelha muito a uma versão moderna e brasileira do demônio Pazuzu de o Exorcista (1973), pois o Saci não mais azeda o leite, dá nó na crina de cavalo ou rouba ovos de galinhas, ele agora pune e caça quem desrespeita os espíritos da floresta com o desejo de possuir e enlouquecer seus alvos.

A referência ao Exorcista está presente na sequência de exorcismo, contudo ela não passa de apenas uma referência, pois toda a cena é bem “abrasileirada”, com um pastor (o próprio Zé do Caixão) gritando trechos da Bíblia, seguida de uma montagem alternada e sufocante entre possuída e o grupo exorcizando, além da movimentação de câmera nauseante e os planos fechados que ajudam a causar esse efeito incômodo tão desejado pelo veterano diretor. Uma curiosidade sobre a cena do exorcismo, e outros frames seguintes são as pontas feitas pela equipe neste curta metragem.

 

 

A Loira do Banheiro de Joel Caetano traz um outro clássico das lendas urbanas brasileiras, de um jeito brasileiro mas com um flerte no cinema japonês de horror, o internato de garotas e até a forma como elas se vestem lembram muito os filmes orientais. Um dos frames do filme, as luzes piscam, um banheiro abandonado e uma garota está de costas no centro do lugar, enquanto outra garota se aproxima dela, alternando entre inserts da mão que se aproxima da figura estranha e closes do rosto apreensivo, homenageia os clássicos como Ju-On (2002) ou Ringu (1998), tanto pelo set-up da cena quanto seu clímax final, o cenário também ajuda a remeter as histórias de assombrações asiáticas, tanto no cinema como nos jogos, o banheiro apodrecido lembra muito de Silent Hill, por exemplo.

 

 

O efeito desse flerte entre cinema brasileiro e japonês traz um resultado interessante e uma boa capacidade de articular os cânones, já que a colorização, a locação, os personagens e o estilo da escola/internato cria uma mistura interessante de nacionalidades formando uma estética nova e própria, que causa uma confusão de local e anacrônica, pois ele utiliza uma lenda brasileira e  a mescla com nacionalidades características de outros cinemas. É um curta exemplo de como o gênero horror possui um caráter simbionte de englobar diversos cânones de diversas regiões e gêneros cinematográficos criando uma estética nova a partir da boa reutilização do já conhecido.

 

 

A Casa de Iara é o último curta-metragem, de menor duração e o mais imagético de todos eles, com poucos diálogos, o foco dele é ser forte visualmente falando, seja na violência quanto na erotização culminando na mistura dos dois elementos, por uma sequência de efeito incômodo e indigesto, trazendo contigo uma das principais características do gênero, a externalidade, o espectador certamente vai se incomodar com o que está em tela configurando-se em um sentimento, no melhor dos sentidos, de repulsa na platéia

O último curta se amarra com a história dos garotos porque a casa de Iara é o último lugar por onde as crianças percorrem, na casa o monstro do primeiro curta ataca um dos meninos no último frame, que acaba com um close no rosto do garoto, novamente muito expressivo e exagerado, longe de qualquer realismo/naturalismo, reforçando outro cânone narrativo do final pessimista em que a vítima morre e a sensação de insegurança jamais vai acabar.