Recentemente assisti (pela primeira vez) ao clássico O Bebê de Rosemary, de 1968. Para quem não conhece, a história é sobre o casal Guy e Rosemary que se muda para um apartamento e decide ter um bebê. Os vizinhos são um casal de idosos bem esquisitos. Com o tempo, coisas estranhas vão acontecendo e Rosemary começa a desconfiar de todos a sua volta, achando que querem roubar seu bebê.
Esse filme me fez refletir sobre a representação da mulher no gênero do terror, principalmente quando grávidas. Geralmente, a imagem da mulher grávida em muitos filmes de terror faz analogia à imagem cristã de Maria de Nazaré, escolhida para ser mãe do filho de Deus; logo, a mulher é escolhida para ser mãe do filho do Diabo, ou gerar a vida do próprio Satanás na Terra. Podemos ver essa representação em clássicos como o próprio Bebê de Rosemary e A Profecia (1976).
Outra maneira de representação de mulheres grávidas em filmes de terror é quando a gravidez é posta como fragilidade da personagem feminina, agindo no público de maneira a causar-nos aflição. No entanto, isso não impede a personagem grávida de absolutamente nada, como podemos ver em alguns filmes que listei relacionados a este tema:
A Invasora (França, 2007)
Dir. Julien Maury
“Após a morte do marido, Sarah vive sozinha e só recebe visitas da mãe e do chefe. Na véspera de dar à luz um bebê, Sarah ouve uma mulher bater na porta. Apreensiva, ela não abre e decide chamar a polícia. Porém, a mulher misteriosa está determinada a entrar.”
A mulher grávida, neste filme, nos faz sentir aflição das situações por conta da “fragilidade” em que se encontra: grávida, recentemente viúva e sozinha em uma casa. Além do suspense, esse filme traz banhos de sangue e um roteiro bem construído. Recomendadíssimo aos fãs de gore e do New French Extremity.
OBS: há um remake espanhol lançado em 2016 com o nome Inside (Perigo na Escuridão aqui no BR), dirigido pelo espanhol Miguel Ángel Vivas.
Campo do Medo (Canadá, 2019)
Dir. Vincenzo Natali
Um rapaz e sua irmã grávida ouvem um grito de um garoto de dentro de um campo com plantas altas e resolvem ajudar. Percebendo que pode não haver saída, as coisas começam a ficar estranhas. Uma família também acaba se envolvendo na trama.
Produzido pela Netflix e baseado no livro de mesmo de Stephen King e Joe Hill. Neste caso, a gravidez serve como a fragilidade da personagem feminina.
Um Lugar Silencioso (EUA, 2018)
Dir. John Krasinski
Uma família vive no campo e se comunica apenas por sinais, fazendo o menor barulho possível. Aos poucos descobrimos o motivo: quebrar o silêncio pode levá-lo a morte.
Durante o filme a personagem da mãe descobre estar grávida, e haverá um momento em que terá que dar à luz ao bebê, porém em silêncio, para não arriscar suas vidas. Já aviso que essa cena é desesperadora.
A Maldição da Freira (Reino Unido e Irlanda, 2018)
Dir. Aislinn Clarke
Dois padres são enviados pelo Vaticano para investigar um possível milagre em um lar para mulheres órfãs, grávidas solteiras ou com distúrbios mentais. Encontram possíveis sinais de possessão em uma das mulheres grávidas e acabam descobrindo outros eventos malignos no local.
Recomendável aos fãs de Found Footage, pois os padres registram toda a operação da investigação. A cena de exorcismo é fantástica. O filme não foi muito bem recebido pelo público, mas não acredito que seja uma perda de tempo.
PREVENGE (Reino Unido, 2016)
Dir. Alice Lowe
Uma mulher grávida recentemente ficou viúva e o bebê em sua barriga lhe diz para vingar a morte do marido cometendo assassinatos brutais.
Essa comédia britânica e sangrenta quebra a representação estereotipada da gravidez da qual eu mencionei anteriormente. A protagonista comete vários assassinatos e utilizando a gravidez em seu favor.
Alice Lowe além de dirigir, escreveu o roteiro e interpretou a personagem principal de seu próprio filme. Dá para fazer toda uma análise de como ocorre a gravidez na vida de uma mulher, que nem sempre é algo belo mostrado nas propagandas e representações clássicas.
Afinal, esse é a ideia de usar a gravidez em filmes de terror também, certo? Quais mais questões podemos refletir acerca deste tema?