O medo do escuro é algo natural e inerente de todos nós. Nos primórdios da humanidade o ser humano aprendeu, da pior maneira, que as feras e as criaturas sempre se escondiam no escuro, criando uma forte associação em nosso inconsciente sobre os perigos do cair da noite e da ausência de luz. Esse sentimento ainda é forte nos dias de hoje e continua enraizado em nossa mente. Na infância, com nossa imaginação fértil, esse sentimento é bem presente, transformando as sombras do canto do quarto em monstros que irão nos pegar. Na vida adulta essa sensação é praticamente dissipada e suplantada pela nossa lógica, mas é inegável o fato de que sempre olhamos para trás ao atravessar um corredor escuro.
Lights Out é curta de terror que nasceu desse medo. Dirigido por David F. Sandberg, o vídeo ficou bastante popular no Youtube ao nos apresentar a simples história de uma moça que ao apagar as luzes de sua casa acaba se deparando com uma estranha sombra em seu corredor. Possuindo somente dois minutos e quarenta segundos de duração, esse curta conseguiu reproduzir de forma eficaz esse medo antigo, se tornando um fenômeno na internet ao repassar ao público uma experiência de terror claustrofóbica e familiar, algo que muitos filmes do gênero tendem a falhar.
Diante desse enorme sucesso, um filme baseado no curta foi anunciado, trazendo Sandberg para a sua primeira experiência na direção de um longa. Possuindo o título de Quando as Luzes se Apagam no Brasil, o filme foi lançado em 18 de agosto de 2016 focando em contar a história de Rebecca (Teresa Palmer) que saiu de casa para escapar das loucuras de sua mãe, Sophie (Maria Bello), onde tinha experiências assustadoras com uma criatura estranha que apenas aparecia no escuro. Percebendo que seu irmão, Martin (Gabriel Bateman), está vivendo os mesmos traumas de sua infância, Rebecca volta novamente a casa da mãe, numa tentativa de salvar a sanidade de sua família.
Quando as Luzes se Apagam, à primeira vista, se assemelha bastante com diversos filmes do gênero. Suas cenas iniciais são facilmente uma reprodução de várias obras de terror que estamos acostumados a ver. Isso não é necessariamente um ponto ruim, aliás isso ressalta um cuidado de Sandberg em construir uma narrativa coesa e familiar para o público. Os primeiros minutos do longa são uma forma eficiente de introduzir a criatura ao telespectador, mostrando um pouco sua forma de agir e como ela se comporta diante da luz. O que vemos depois disso é uma interessante replicação do que é apresentado no curta de 2013. Uma experiência de terror com uma história simples, mas com personagens bem caracterizados e motivações que tornam críveis os acontecimentos da história.
David F. Sandberg se mostra bastante confiante e confortável em sua primeira direção. A duração de uma hora e vinte minutos do filme é aproveitada de forma certeira, utilizando esse espaço de tempo para fortificar a relação familiar entre Rebecca, Martin e Sophie. O diretor conduz bem os atores em cena, conseguindo repassar ao público suas personalidades, utilizando também o ambiente para contar um pouco sobre os personagens. Rebecca, por exemplo, é retratada como uma mulher rebelde e livre de vínculos, atitudes que são transparecidas com a decoração da sua casa e de sua relação com Bret (Alexander DiPersia). Já Sophie e Martin vivem em uma casa inteiramente escura, o que corrobora com a proposta do filme e transmite a mensagem de que aquele não é um ambiente feliz.
A atmosfera é um dos pontos altos. Apelando para cenários escuros, o diretor explora cenas utilizando iluminações fracas como uma lanterna ou a luz da lua. Recorrendo a recursos como luzes com sensores de movimento ou letreiros eletrônicos, o filme consegue construir ótimos momentos de tensão, momentos esses que, infelizmente, são estragados pela utilização de um jumpscare, onde prevalece mais o susto sonoro do que o terror psicológico que a trama tenta construir na cena. Como mencionei anteriormente, Sandberg resolveu apostar em recursos familiares ao público, e apesar de apelar para recursos baratos para incutir medo ao público, ele consegue se sobressair dosando sua utilização para momentos específicos da história.
Quando as luzes se apagam, apesar dos problemas, é um filme modesto. É o tipo de filme que não irá ter trazer nada de novo ou irá apresentar alguma reflexão profunda sobre aquilo que está se passando na tela. É um entretenimento simples, que rende bons momentos de tensão, principalmente para os amantes de sustos fáceis. Talvez a história do filme desagrade alguns, bem como a utilização de jumpscares, mas ainda é um filme bem redondo e construído, constituindo uma boa obra de terror e que, com certeza, vai ficar em nossas mentes todas as vezes em que apagarmos as luzes.
Concordo com todas as suas colocações. É um filme que em geral não acrescenta qualquer novidade, o assisti uma vez só (um milagre, visto que adoro repetir filmes) e não desgostei, mas também não entra na listagem dos queridos e repetíveis, hehe. Ótima review!
Eu particularmente não gosto dos jumpscares, não tanto por que eu sempre caio neles igual uma trouxa e morro de susto, mas por que pra mim isso deixa os filmes muito repetitivos, até fiquei um bom tempo sem ver esses filmes por isso. Chamava eles de “filme de dar susto” e não de filmes de terror. Mas assisti esse e apesar dessas cenas de susto eu até gostei da história, como você falou, é um filme pra entretenimento, e acho isso mais honesto que muito filme por ai.
Abraço,
Liv | Resenhas Caóticas | A Odisseia | Instagram