Encarar traumas do nosso passado as vezes pode ser doloroso. Nunca é fácil olharmos para os nossos erros, principalmente quando não estamos prontos para lidar com nossos demônios interiores. Aceitar um trauma e lidar com as consequências de nossas ações é o primeiro passo para a libertação. Para cada um de nós é difícil simplesmente ignorar esse ponto de convergência e fingir que nada aconteceu. As vezes acabamos encontrando força na companhia das outras pessoas ou em atividades que nos façam esquecer a dor. Porém para alguns, esse medo acaba se tornando uma amarra a esse momento sombrio da vida, algo que só é remediado com o apego a uma falsa sensação de normalidade ou uma mera ilusão que nos leva a caminhos estranhos e sem volta.

The Invitation, filme da diretora Karyn Kusama, é um filme essencialmente sobre o trauma. Abordando esse lado delicado e factual da natureza humana, somos apresentados ao casal Will (Logan Marshall-Green) e Kira (Emayatzy Corinealdi) que estão indo para um encontro com velhos amigos a convite da ex-mulher de Will, Eden (Tammy Blanchard). Sumida há dois anos, depois do falecimento do filho, Éden volta a aparecer novamente na vida de Will, apresentando seu novo companheiro, David (Michiel Huisman), e estranhos novos amigos que conheceu no México.

A sensação ao mergulharmos em The Invitation é de estranheza. Durante todo o filme há um forte sentimento de perda e desolamento, algo que é reforçado em seus minutos inicias ao nos apresentar a personalidade introspectiva de Will e sua dificuldade em lidar com a morte ao precisar sacrificar um animal que está em sofrimento. Imerso nessa atmosfera pesada, somos rapidamente introduzidos ao núcleo principal desta história, onde presenciamos um grupo de amigos de diferentes personalidades, além de seus anfitriões que esbanjam cordialidade e gentiliza, mas que por alguma razão nada ali parece certo e tudo soa artificial.

É nesse ponto que o filme atinge seu auge. Durante toda essa reunião há um clima constante de desconforto, principalmente quando descobrimos um pouco sobre os motivos da separação de Will e Eden e como a vida de cada um mudou devido aos traumas em família. Quando é revelado um pouco sobre o passado de Éden no México, uma sensação de paranoia é adicionada a história, algo que se instaura cada vez mais na figura de Will quando é confrontado pelo comportamento excêntrico de David durante o jantar, além de dois convidados que só deixam o clima mais estranho com suas atitudes e diálogos. Ao chegarmos finalmente aos momentos de conclusão da narrativa, The Invitation consegue surpreender novamente o público, nos jogando a um final chocante e que nos faz repensar a dimensão sobre os fatos que foram apresentadas naquela casa.

Presente no catálogo da Netflix, The Invitation se destaca como um dos melhores filmes de suspense que já vi, figurando entre umas das ótimas recomendações para os amantes do gênero. É um filme pesado, mas que carrega uma importante mensagem sobre aceitação e como cada um de nós precisa enfrentar o passado na incansável busca pela paz.