Tag: <span>rebecca</span>

Rebecca, A Mulher Inesquecível e o remake irrelevante

No episódio 61 do Necronomiconversa, onde falamos do filme Rebecca, a Mulher Inesquecível, dirigido por ninguém mais que Alfred Hitchcock, eu fiz algumas previsões negativas quanto ao remake de Rebecca, e comentei que não estava nem um pouco animado para o filme. Ainda no episódio, prometi que faria a crítica do filme no site, assim que ele saísse, muito que bem, como promessa é dívida aqui estou para falar do remake de Rebecca, um dos meus filmes preferidos do Hitchcock, agora com uma nova roupagem dirigida por Ben Weathley e estrelando Lily James e Armie Hammer, como Mrs. de Winter e Max de Winter, respectivamente.

A refeitura de Rebecca não é um filme ruim, entretanto é um filme sem graça, muito distante em termos de qualidade fílmica e estética do original dirigido por Hitchcock, o que deixa a obra muito apagada em relação à sua versão anterior. Falta na narrativa uma condução diretorial que entregue o suspense que vemos no filme de 1940, que dá todo o tom deste romance obscuro. Narrativa em que há um fantasma que não aparece, e está presente apenas no imaginário dos personagens, que construíam Rebecca de forma tão descritiva e assustadoramente real, o que não acontece nesta nova abordagem.

Falando em filme de assombração sem assombração, como eu aponto durante o episódio, aqui Rebecca precisou ser mostrada, mesmo que não por completo, mas por meio de uma estética onírica que levava a senhora de Winter à uma alucinação com a ex-esposa de seu marido que passeia como um fantasma pelo baile, momento clássico e importantíssimo para a narrativa. Tal sequência é totalmente desnecessária, que denota essa conveniência de filmes atuais em expor demasiadamente para explicar, mesmo que Rebecca seja só mostrada de costas vestindo um vestido vermelho e possuindo longos cabelos pretos. No original apenas a descrição feita pelos personagens da trama bastava para criarmos a imagem de Rebecca em nossas mentes, e através de seus relatos, a ex-esposa de Maxim estava mais presente e visualmente viva do que nunca.

Não havia necessidade de se sustentar em uma criação clichê de aparição para mostrar o quão perturbada está a senhora de Winter, já que o grande acerto da primeira adaptação de Rebecca são suas sutilezas, e Hitchcock deixa nas mãos da, excelente atriz, Joan Fontaine para mostrar sua perturbação quanto a presença, quase que espectral, de Rebecca na vida daqueles que agora ela precisava conquistar.

O filme tem qualidades, uma delas é a composição belíssima de planos aliada ao excelente trabalho de uma direção de arte competente que trouxe no figurino e construção de set o aviso de como os detalhes são importantes para a imersão do espectador e ressaltar a época em que se passa a narrativa, a classe social dos personagens, suas características psicológicas, entre outros detalhes que às vezes passam despercebidos por nossos olhos, mas são muito importantes para a criação daquele universo fílmico que a produção propõe, não tem como não dizer que o filme é lindo imageticamente. A atuação de Lily James também é um ponto positivo, a atriz se esforça, e a forma como a personagem da senhora de Winter se sente é crível e de certo modo tive empatia com a personagem.

Rebecca, uma Mulher Inesquecível versão da Netflix sofreu do mesmo problema que a senhora de Winter, o remake também possui um alguém notável do passado do qual serve como uma assombração e um ponto de referência comparativa. Entretanto, enquanto a senhora de Winter consegue se superar e mostrar que é tão extraordinária quanto Rebecca com suas próprias particularidades, o remake falha e não consegue superar o seu passado, nem mesmo ser relevante, tornando-se mais um filme esquecível do catálogo da Netflix. Acredito que remakes podem sim ser bons, e não precisam ser melhores que os originais, mas o bom remake precisa ser tão relevante quanto o original e trazer novos ares para uma narrativa que de certa forma representa uma narrativa em uma época diferente, infelizmente essa nova versão de Rebecca não se justifica, nem mesmo atualiza o enredo, por isso, o original, de Hitchcock, continua sendo a única adaptação relevante do romance homônimo de Daphne Du Maurier.


#61 – Hitchcock: Rebecca

Necronomiconversa
#61 - Hitchcock: Rebecca
/

E no episódio de hoje eu (Euller Felix) recebo o nosso querido redator Matheus Maltem e a Gabi Larocca para conversarmos sobre Rebecca!

 

Apoie o Necronomiconversa 

Compre o livro O Melhor do Terror dos anos 80

Curso sobre Hitchcock no MIS 

Entre no nosso grupo do Telegram

Artes do episódio por Juliana de Melo 

Edição feita por Euller Felix