No Halloween deste ano a Amazon Prime e a produtora Blumhouse, famosa por produções de horror como Corra! (2017), A Morte te dá parabéns (2017) e O Homem Invisível (2020), fizeram uma parceria para lançar quatro filmes do gênero na plataforma de streaming. Hoje vamos falar de Mau-Olhado ou Evil Eye, dos diretores Elan Dassani e Rajeev Dassani, um dos filmes que fazem parte do pacote de filmes desta colaboração entre as duas empresas.

O filme possui alguns planos de fundo que alimentam a sua trama, uma mãe que acredita que o namorado da filha é a reencarnação de um ex-namorado que tentou matá-la anos atrás. Um destes planos é o conflito entre gerações bem delineado logo no início da obra, costumes tradicionais são colocados em paralelo a todo momento com a modernidade, e isso é exposto através da relação mãe e filha, personagens principais da trama.

O tradicional por exemplo, é mostrado através da mãe, Usha, que busca incessantemente um casamento para sua filha, Pallavi, já que na cultura indiana, o casamento é uma tradição sagrada, que concede status social para os noivos, e o fato de Pallavi já ter 29 anos, morar nos Estados Unidos e ainda ser solteira, faz com que Usha fique temerosa que sua filha esteja amaldiçoada. Medo que só é acentuado ao ver as filhas de amigas e parentes casando-se em uniões arranjadas, deixando Pallavi para trás na fila de casamentos.

Mesmo que Usha represente o lado da tradição do filme, é interessante notar os intercâmbios ou até mesmo a colonização cultural do mundo moderno através da importação de produtos e marcas que envolvem o ambiente digital, pois a personagem fala com sua filha por um Iphone, faz chamadas de vídeo pelo Skype e isso fica cada vez mais evidente na trama, tendo um ápice através do diálogo entre outros personagens durante um casamento bem tradicional indiano, e o pai de um dos noivos diz que eles haviam se conhecido através do Skype e aplicativos de encontro.

Já Pallavi representa essa quebra das tradições, pois ela, no início do filme, demonstra querer uma independência, estando preocupada com o trabalho e sua ascensão social  através dele, deixando a vida amorosa para segundo plano. Entretanto, vemos que ela nutre um respeito pela mãe e é estabelecido um conflito interno na personagem, que mesmo estando atrás de uma independência, possui um receio de decepcionar a mãe e sente uma necessidade de se provar para os pais.

Estes conflitos são ainda acentuados pela discussão, muito recente e importante, sobre relacionamentos abusivos, pois, ainda que Usha queira que a filha se case, ela se preocupa com o tipo de homem que entrará no caminho da filha, já que ela havia previamente sofrido nas mãos de um abusador, por isso ela reforça que mesmo querendo que a filha se case, ela precisa se impor e ter sua independência como mulher, e não deixar ser tratada como posse. Os traumas da mãe provenientes desse relacionamento de posse e da violência sofrida, são explicitados pela forma como Usha se agarra na tradição e no exotérico, que segundo ela, Pallavi é alvo de uma maldição lançada pelo seu antigo namorado.

A narrativa então é conduzida de forma muito parecida com O Homem Invisível (2020), através de um jogo entre Usha, o espectador e os demais personagens, onde a paranóia da personagem só aumenta enquanto a trama avança e o novo namorado de Pallavi se revela, enquanto ela é desacreditada pelos demais personagens, inclusive sua filha, que justificam a perseguição dela contra o namorado da filha pelos traumas causados por seu namorado do passado.

Mau-Olhado me prendeu até o fim da trama e possui camadas de discussão de um mundo moderno que são interessantes e necessárias, como a questão do relacionamento abusivo e o conflito do tradicional e a modernidade, expressas através da relação entre mãe e filha. Infelizmente o ato final não sustenta a trama estabelecida anteriormente e não entrega totalmente o que foi proposto, caindo em alguns clichês a armadilhas do gênero, entretanto é uma produção que manteve o meu interesse e possui seus valores como filme de horror.