Um interesse que surgiu em mim recentemente (por recente entenda “de uns três anos para cá”) foi o meu interesse pelo queer horror. Faz sentido, afinal eu sou gay e sou fã de terror, parece inclusive estranho que eu tenha demorado tanto a focar mais nisso. Lendo mais sobre o assunto eu percebi que inconscientemente vários dos meus filmes e subgêneros de terror favoritos flertavam com subtextos queer. Todo o clima de perversão sexual e a artificialidade dos giallo, histórias de pessoas com “monstros” dentro de si, sexualidade reprimida se manifestando de formas violentas e sobrenaturais etc etc. Mais do que filmes com personagens LGBT (como “Faca no coração”, “As boas maneiras”, “Thelma” e “Hellbent”) o queer horror também engloba a repressão sexual e uma certa “monstruosidade” em seu subtexto (como é o caso do famigerado “Hora do Pesadelo 2”, os famosos “Desafio do além” e “Os inocentes”, o alemão “Der Samurai” e até mesmo o clássico “Frankenstein” por exemplo).
Esse não é um texto sobre queer horror (talvez eu faça um mais adiante), mas sim sobre um curta bem interessante chamado “Pyotr495” de 2016. Embora tenha sido dirigido pelo canadense Blake Mawson o filme se passa na Rússia (inclusive é falado em russo) e já começa com um letreiro contextualizando que no país existem leis agressivas contra a população LGBT. Acompanhamos então uma noite do Pyotr, um jovem gay que vai para um encontro com um homem que conheceu em um aplicativo. O encontro se revela uma armadilha e a noite toma rumos inesperados.
É um filme com cenas bem incômodas de homofobia e que trabalha com a ideia da “homossexualidade monstruosa” de um jeito bem interessante. Ver essa “monstruosidade” queer que tanto assusta o mundo heteronormativo e “de bem” como uma forma de resistência e sobrevivência.
O curta é bem direto e parece até aquelas histórias sangrentas de vingança sobrenatural dos quadrinhos de terror da EComics. Recomendo ele fortemente. É fácil de encontrar ele no youtube, embora infelizmente apenas com legenda em inglês.