Com o passar dos anos os estilos e gêneros do cinema vão sendo modificados, afinal houve toda uma nova aparelhagem tecnológica. Também os gostos daqueles que consomem os filmes foram se modificando, assim coube à indústria acompanhar aquilo que está mais adequado ao gosto dos telespectadores, visando o que dá mais lucro ou gera mais presença nas salas de cinema. Isso não seria diferente com o gênero de terror, porém toda essa modernização fez com que ele passasse a ser marcado por repetições das mesmas estruturas nas histórias que eram contadas.

Os anos 80 estavam repletos de histórias que apresentavam o gênero slasher, os anos 90 aproveitaram bastante as refilmagens de filmes estrangeiros que garantiam público, principalmente os asiáticos. Nos anos 2000 se utilizou o found footage e os jump scares para fazer filmes com bilheterias que entraram para a história do terror como os mais vistos e lucrativos.

Com isso, salas de filmes como Atividade Paranormal e suas continuações, ou todos os filmes do chamado “invocaverso” – os filmes da sequência Invocação do Mal e seus derivados – lotavam salas no mundo todo e isso garantia divertimento para quem ia assistir, além de sustos e um multiverso de espíritos e demônios que apresentavam ligações em uma linha temporal. Porém os críticos de cinema, a cada filme novo dessas franquias, davam a eles notas cada vez mais baixas, que não condiziam com as notas das pessoas que saíam do cinema extasiadas. Em alguns lugares houve histórias de pessoas passando mal nas salas de exibição, o que acabava gerando cada vez mais espectadores que iam para o cinema para saberem se eram fortes o suficiente para esse tipo de filme.

Nesse momento surgem filmes que quebram essas barreiras da mesmice e geram uma nova forma de ver o cinema de terror ou horror, mas será que essa formula é tão nova e diferente assim? Após todo o burburinho causado pelo filme A Bruxa em 2015 vimos o inverso acontecer, os espectadores saíram das sessões de cinema irritados com a falta de susto, já que eles partiram do princípio de que um filme que retratava a história de uma bruxa teria muitas situações grotescas e assustadoras. O que eles viram foi um filme que mostrava toda a aflição de uma época, com muitas situações que não eram explicadas detalhadamente pelo diretor. Enquanto isso acontecia a crítica sobre o filme falava dos detalhes e dos cuidados do diretor, como ele prende e cativa os “verdadeiros amantes do horror”.

Além desse, outros filmes com essa pegada foram lançados e chamaram cada vez mais atenção dos críticos. Depois de A Ghost Story em 2017 resolveram que já era o momento de garantir que havia começado uma nova era do terror, encabeçado pelas produtoras independentes que não tinham a pretensão de se lançar para os grandes consumidores de cinema, mas que começaram a chamar a atenção dessas pessoas. Entre eles, o jornalista Steve Rose que publicou em julho de 2017 no The Guardian um artigo que falava sobre esse novo gênero de cinema, o pós-horror.

Mas como já foi levantado anteriormente, será que esse gênero é tão novo assim? O que ele retrata? Nenhum outro filme seguiu essa forma de exposição antes do início dos anos 2010? Quem gosta de rever filmes que são considerados clássicos do terror sabe que terror psicológico está presente nos enredos desde muito tempo. Não ser um filme altamente explicativo e expositivo garantia horas de conversas com os amigos sobre se aquela história de A Bruxa de Blair é verdadeira ou não, ou como cada um entende a força do Hotel Overlook sobre Jack Torrance de O Iluminado, ou como foi perturbador acompanhar a deterioração da mente de Rosemary em O Bebê de Rosemary. Além desses filmes que são conhecidos do público, muitos outros lidam com jogos mentais durante todo seu enredo, deixando os momentos de susto para partes extremamente importantes específicas da trama.

Essa nova nomenclatura sobre um tema que já existe há muito tempo no cinema mostra que a forma mais explicita de fazer terror pode cansar, mas eles continuarão existindo e chamando muitas pessoas pra assisti-los no cinema, assim como todas as outras formas de se fazer terror. Os gêneros não são datados e muito menos inventados, eles podem ser reformulados e trazidos a nossa atual realidade, dando espaço para pessoas que não gostam muito de tomar sustos ou para essas pessoas que gostam entendam que o gênero de terror não é apenas o que faz sucesso hoje, mas que ele vem se moldando e se adaptando, sem deixar de lado o fascínio provocado a cada história.