Recentemente, o cinema mundial, mais especificamente dentro do gênero de horror, tem nos entregado com frequência filmes com a temática de rituais relacionados a folclores e crenças locais, como em A Bruxa (2015), de Robert Eggers, ou no britânico O Ritual (2017), de David Bruckner. Seguindo por esse caminho, em sua estreia na direção, o ator argentino Ignacio Rogers aposta em uma mistura do gênero de slasher com o sobrenatural, nos remetendo a clássicos como A Hora do Pesadelo (1984), de Wes Craven, por exemplo, quando insere a influência do mundo dos sonhos na vida real. O Diabo Branco é uma coprodução entre Brasil e Argentina, agregando à lista de produções latino-americanas deste gênero, que tem marcado cada vez mais presença, algo muito animador.

O longa nos traz quatro amigos que viajam para o interior da Argentina, em busca de alguns dias tranquilos. Antes mesmo de chegarem ao destino, já encontramos o desconforto em alguns elementos, como o enjoo de uma das jovens (que persiste ao longo do filme), e um estranho objeto à beira da estrada, que parece homenagear alguém que ali faleceu. Ao chegarem no local, um complexo de cabanas, um homem pouco simpático os atende. Mas o clima intrigante para por aí, quando o ritmo do filme começa a perder sua força.

Ao fazer um exercício de gênero e uma homenagem aos clássicos, o roteiro, escrito por Rogers em conjunto com Paula Manzone e Santiago Fernandez, por um lado ganha pontos ao não utilizar estereótipos para representar os personagens que poderiam facilmente ter ido por esse caminho (qual caminho?), mas, ao mesmo tempo, não se aprofunda em nenhum deles. Os dois casais não falam sobre suas vidas pessoais e parecem não ter motivações. Nem mesmo surge um interesse mútuo entre o casal que esteve em um relacionamento prévio, algo que, apesar de clichê, traria ao menos a sensação de algum tipo de profundidade às interpretações.

O diretor assume a referência dos filmes de terror contemporâneos, que possuem um ritmo mais lento, mas acaba perdendo a mão e construindo uma narrativa que demora a se desenrolar e tem problemas em criar uma atmosfera de tensão, falha também da direção de fotografia de Fernando Lockett, que não dispõe de enquadramentos que colaborem com o clima desejado, apoiando-se no desenho sonoro para gerar algum tipo de ansiedade, mas que não sustenta o filme no resto do tempo. É apenas no terceiro ato, com o clímax, que finalmente o enredo ganha coragem ao fechar com um final aterrorizante, mesmo que com uma última morte um pouco sem sentido ao utilizar de uma arma de fogo, fugindo do padrão de todas as outras anteriores.

Pistas que levam a lugar nenhum, situações que ficam mal explicadas, assim como informações que são apenas jogadas sem nenhuma explicação (como uma fita cassete que o protagonista recebe em sua porta) são aspectos que provavelmente tinham como intuito incrementar o mistério, mas que acabam por apenas deixar tudo mais confuso e raso.

O Diabo Branco, rodado na província de Tucumán, na Argentina, ganha ao apostar na questão cultural e fazer uma alegoria ao que seria uma vingança dos nativos contra os colonizadores que chegaram às terras desconhecidas (a eles) da América, mas infelizmente opta por não se aprofundar nesta crítica, que poderia ter sido mais explorada e, consequentemente, traria ampla força ao roteiro.

O filme, que estreou no BAFICI XXI, e ganhou menção especial no Festival do Insólito, no Peru, opera bem ao não apelar aos estereótipos e recursos batidos como o jumpscare, algo que não supre a necessidade de um maior desenvolvimento e ousadia da trama, mas que ainda assim, é um estudo válido e uma importante contribuição para o terror da América Latina.