Ygor Pires Monteiro*

Por muito tempo, Stephen King foi associado exclusivamente ao terror. Contos, romances e filmes pareciam vir apenas desse gênero. Títulos como “Carrie, a estranha”, “It: A coisa”, e “Cemitério” eram sempre resgatados para tentar justificar essa percepção. Tempos depois, a diversidade da obra do autor passou a ser mais reconhecida, tendo dramas como “Um sonho de liberdade”, ficção científica como “A zona morta” e policial, como a trilogia de Bill Hodges. De fato, são muitos Stephen King dentro de um homem só, podendo inspirar filmes e escrever histórias diversas. Mas, você já parou para pensar que terror e drama não estão tão separados assim e elementos de um podem estar presentes no outro? 

É o caso do filme “Conta comigo” de 1986, dirigido por Rob Reiner e adaptado do conto “O corpo”, que está na coletânea “Quatro estações” de 1982. Na trama, Gordie Lachance, Chris Chambers, Teddy Duchamp e Vern Tessio são quatro amigos inseparáveis. Quando em certo dia, Vern escuta seu irmão e um amigo conversarem sobre a possível localização do corpo do menino Ray Brower, menino desaparecido que todos julgavam estar morto na floresta, e conta aos outros, o grupo decide sair em uma aventura: embrenhar-se pela floresta de Castle Rock para procurar o cadáver, avisar às autoridades e ficar famoso. Quando a jornada começa, os quatro jovens passam por experiências marcantes que os fazem encarar suas vidas e seus futuros de formas bem diferentes. 

“Conta comigo” é um drama de amadurecimento centrado, principalmente, em Gordie, mas também em Chris, Vern e Teddy em algum nível. Porém, a morte, algo tão lembrado e presente no terror, tem grande influência sobre os personagens e a narrativa. Nesse sentido, o autor Stephen King e o diretor Rob Reiner usam um aspecto central para o terror em uma história dramática com vários sentidos. A morte pode surgir na busca pelo corpo do menino morto, mas vai além. Pode também ser representada pelo enfrentamento do luto de Gordie, que perdeu o irmão Denny em um acidente. E pode ser traduzida simbolicamente na aceitação do fim daquelas relações que construímos na infância e/ou adolescência. 

Na primeira cena em que vemos os quatro amigos juntos, o primeiro sentido para a morte logo aparece. Todos estão em uma casa na árvore e Vern pergunta “Vocês não querem ver um cadáver?”. O que se segue são as especulações dos garotos sobre se Ray Brower teria morrido atropelado por um trem ao ir buscar amoras e planos de como poderiam procurar pelo corpo na antiga estradinha Harlow. Encontrando-o, eles imaginavam que poderiam ser considerados heróis aparecendo na TV e dando entrevistas na rádio. 

A jornada envolve ficar frente a frente com um menino da idade deles que morreu precocemente, mas a morte não viria apenas daí. Os objetos levados por Gordie e Chris remetem, de algum modo, a ela: o primeiro leva o cantil e o boné que pertenciam a seu irmão e o segundo leva o revólver do pai. O trajeto pela floresta começa com um plano detalhe dos trilhos do trem por onde seguirão, o que provavelmente tirou a vida de Ray Brower. E no decorrer do caminho, a morte aparece em situações cômicas com Vern, temendo uma maldição que se abateria sobre eles ao jogarem cara e coroa e dar empate e imaginar se gritos de coiote à noite seriam sons do fantasma do menino morto. 

A morte também perpassa os arcos narrativos de alguns personagens. Gordie lida em casa com a perda do irmão mais velho; Teddy vive com um pai vitimado por traumas de guerra, quase morrendo ao ter a orelha queimada por ele; e Chris enfrenta uma morte

simbólica, ou seja, ter seu futuro eliminado porque ele simplesmente só conseguiria repetir os problemas da família com a lei e reproduzir as certezas da comunidade de que acabaria se tornando um criminoso. Por sinal, ao longo da jornada, os três jovens são atravessados por esses conflitos, como Teddy que imagina que tentar desviar de um trem seria uma missão na Normandia (onde o pai dele serviu na Segunda Guerra Mundial). 

É verdade que a aventura não tem apenas momentos dramáticos ou dolorosos. Na realidade, quando vemos “Conta comigo”, lembramos rapidamente das cenas cômicas e da convivência espontânea dos quatro amigos com diálogos de fácil identificação. Eles conseguem se divertir apesar do objetivo fúnebre que buscam: conversam sobre os seios de uma atriz, fogem do cachorro Bocarra em um ferro velho, criam formas diferentes de insultar as mães uns dos outros, conversam ao redor da fogueira sobre o que é o Pluto… E ainda há duas sequências clássicas que ilustram a mistura de comédia, inocência e ação do filme: a fuga do trem a toda velocidade e o deslocamento por um lago cheio de sanguessugas. 

Em outras ocasiões, uma inquietação preenche os garotos. Por exemplo, quando Teddy está desanimado após o dono do ferro velho insultar seu pai, ele diz “Desculpe se eu estiver estragando a alegria de vocês”, Gordie fala “Eu não sei bem se deve ser uma alegria”; e quando Chris pergunta “Tá dizendo que quer voltar?”, Gordie responde “Não, Mas, ver um menino morto não devia ser uma festa”. À medida que o tempo passa, a ideia de serem heróis se enfraquece e as brincadeiras de Teddy a respeito da guerra se tornam menos frequentes. 

Outro elemento que nos mostra o quanto o sentido daquela jornada se transforma é a narração em voice over de Gordie. Ao se aproximarem de um rio, ouvimos “Com o estômago roncando partimos em direção ao rio Royal. A realidade de Ray Brower estava se aproximando e nos manteve andando apesar do calor. Para mim, a ideia de ver o corpo daquele menino estava se tornando uma obsessão”. Após o incidente com as sanguessugas, escutamos “Na ocasião, não sabia por que precisava tanto ver aquele corpo. Mesmo se ninguém tivesse me acompanhado, teria ido sozinho”. E quando encontram o corpo, ouvimos “Nenhum de nós conseguia respirar. Em algum lugar sobre aqueles arbustos, estavam os restos de Ray Brower. O trem tinha arrancado os tênis de Ray Brower, assim como a vida do seu corpo. O menino não estava doente. Não estava dormindo. O menino estava morto.” 

Ao alcançarem o objetivo, um novo conflito surge. O grupo de garotos mais velhos também foi ao local querendo levar o cadáver de volta à cidade em busca de fama. Liderados por Ace, a morte também rondava esses jovens, como quando o líder fala que mataria qualquer um deles se tivessem 2 mil dólares para apostar se a polícia localizaria Ray Brower ou quando eles fazem um pega na estrada por onde um caminhão passava. Então, os dois grupos se confrontam e Gordie afasta os jovens mais velhos com o revólver do pai de Chris. 

A decisão do que fazer a seguir revela que a aventura até pode ter começado à procura de fama, porém se tornou algo muito mais complexo. Em um diálogo, Vern pergunta “Vamos levá-lo?”, Gordie responde “Não”, Teddy retruca “Mas viemos até aqui. Era pra sermos heróis” e Gordie finaliza a conversa com “Mas não dessa forma, Teddy”. O silêncio que se instala marca uma concordância geral, no qual todos reconhecem que foram transformados internamente e decidem avisar onde o corpo estava através de um telefonema anônimo. 

A transformação mais evidente é a do protagonista. A procura do corpo de Ray Brower encontra paralelos com o processo de luto de Gordie. Na casa da árvore, um close destaca a face do garoto e a narração expõe sua angústia interna: “Queria compartilhar o entusiasmo

dos meus amigos, mas não consegui”. Em seguida, a narração prossegue com imagens da sua casa com a mãe dele estendendo roupa no varal e o pai trabalhando no jardim: “Naquele verão, em casa, eu tinha me tornado o menino invisível”. Ele pede o cantil à mãe, que não responde, e o pai responde que estava no quarto de Denny. Logo depois, vem a explicação de que os pais ainda não tinham conseguido superar a perda quatro meses atrás e podemos entender que Gordie era deixado de lado por eles. 

Na cena seguinte, Gordie vai ao quarto que era de Denny e observa o local mantido intacto pelos pais com os mesmos objetos e fotografias de antes. Além de disparar lembranças do dia que ganhou um boné do irmão, sintoma da grande saudade que sente, a situação também desencadeia um exemplo dos desentendimentos entre pai e filho. Perguntado por que não tem amigos como os de Denny, Gordie afirma que seus três melhores amigos são legais, o que é rechaçado pelo pai que chama dois deles de debilóides e Chris de ladrão por ter roubado o dinheiro do leite da escola. Este é um momento capaz de ilustrar que o luto do protagonista envolve conflitos paternos. 

Quando a travessia pela floresta começa, o tempo partilhado com Chris, Vern e Teddy afeta todos eles, ainda que não soubessem definir precisamente o que era. Enquanto se divertem conversando e atirando moedas em uma lata no ferro velho, a narração coloca as impressões de Gordie para essa transformação emocional: “Não era só o fato de termos entrado no ferro velho ou termos mentido para nossos pais ou termos ido pela estrada de ferro até Harlow. Era tudo isso, mas me parece que foi algo mais e que todos nós sabíamos. Estava tudo ali ao nosso redor. Sabíamos exatamente o que éramos e para onde íamos. Foi uma maravilha”. 

Ao longo da evolução do personagem, alguns questionamentos desestabilizam o menino. O principal deles são as comparações com Denny, exemplificadas no momento em que Gordie compra comida em um armazém. O dono do local lembra do ano em que Denny foi destaque no campeonato amador de futebol americano e, enquanto falava, um flashback surge no qual uma antiga refeição em família mostra o pai dando mais valor à vida esportiva do filho mais velho do que ao hábito do filho mais novo de criar histórias. Deixando o passado para trás e retornando ao presente narrativo, o dono pergunta se ele joga futebol e, como a resposta é negativa, insiste perguntando o que ele faria então. Como resposta, Gordie diz que não sabe. As comparações com o irmão mais velho fazem Gordie ter dúvidas sobre quem seria e aceitar quem, de fato, é. 

Duvidar de suas características e de seus gostos pessoais é algo recorrente para Gordie. Ele não gosta do comentário de Teddy de que era o amigo quem deveria ir obrigatoriamente comprar comida, pois o sorteio com moedas servia para fazer o diferente cumprir a tarefa. Ser chamado de diferente é o que faz iniciar, posteriormente, um diálogo com Chris perguntando se seria esquisito e recebendo como resposta que todos são. No decorrer da conversa, o assunto passa a ser o futuro, sendo que Gordie se recusa a trocar de escola e se afastar dos amigos e acha uma besteria desenvolver sua capacidade de criar histórias. Quanto a essas preocupações, Chris incentiva o amigo a ampliar seu potencial criativo, independentemente se isso significar um caminho diferente dos amigos e ignorar o tratamento dado pelo pai. 

Mesmo que o diálogo seja sobre temas sérios, Rob Reiner não faz o humor desaparecer. Graças à montagem, a narrativa intercala a discussão de Gordie e Chris com uma conversa ou comentários descompromissados de Teddy e Vern. Primeiramente, Chris diz que Gordie seria

tolo de querer continuar com os amigos se estes te arrastam para baixo, o que o deixaria ser apenas mais um espertinho com nada na cabeça. Em seguida, o diretor corta para uma posição à frente, na qual Teddy e Vern debatem sobre quem venceria uma luta entre o Super-Homem e o Super Mouse, ou seja uma ilustração do que Chris havia dito anteriormente. Além disso, após o fim da conversa principal é acompanhado pelo comentário de Teddy de que precisavam andar mais rápido se não o garoto nem estaria mais morto. 

Em uma noite em que estão em volta da fogueira, os amigos pedem para Gordie contar uma história. A única advertência é feita por Vern, que pede para não ser uma de terror. Então, a história contada é uma comédia incomum, vingativa e escatológica protagonizada pelo garoto apelidado como Bola de Sebo. Ao analisarmos mais a fundo a caracterização do protagonista (a adjetivação de “estranho” pelos outros e a facilidade de criar histórias, inclusive de terror), ele pode ser um alter-ego do próprio Stephen King. Terminada a conversa na fogueira, a narração em voice over traz novamente à tona a questão do menino morto “Ninguém falava em Ray Brower, mas todos pensavam nele”. 

Na madrugada, conseguimos entender um pouco mais sobre as aflições de Gordie devido ao pesadelo em que sonha estar no velório de Denny e ouvir o pai desejar que ele tivesse morrido no lugar do filho mais velho. Além de não conceber a perda precoce do irmão, o menino é afetado por emoções complexas que giram em torno de uma sensação de rejeição paterna. Posteriormente, Chris e Gordie desabafam sobre os medos e dores que carregam dentro de si e, possivelmente, nunca tinham verbalizado: o primeiro manifesta sua preocupação de não ter um futuro agradável por ser marcado como um criminoso, já o segundo se ressente de não ter chorado no enterro de Denny e sentir muita saudade dele. 

Conforme se aproxima o fim da aventura, uma frase dita pelo dono do armazém parece fazer mais sentido. Ele cita uma passagem da Bíblia, que dizia que no meio da vida encontramos a morte. A citação pode se encaixar na carga simbólica que existe na cena em que um cervo aparece para Gordie, algo que se torna tão importante para ele que mantém a aparição como um segredo só dele. Encontrar aquele ser vivo poderia ser uma demonstração de vida em uma jornada marcada pela visão da morte? A passagem bíblica também pode remeter à reação de Gordie ao finalmente terem encontrado o corpo de Ray Brower, de tal forma inconformada que surpreende Teddy e Vern e obriga Chris a consolá-lo. 

Apesar de todos se sentirem impactados com o cadáver, Gordie é quem mais sente. Ele fica com um olhar perdido e começa a falar extremamente emocionado “Por que você teve que morrer?”, “Por que o Denny teve que morrer?”, “Devia ter sido eu. Eu não sirvo pra nada. Meu pai diz que eu não sirvo pra nada. Ele me odeia. Meu pai me odeia”. O descontrole emocional é consolado por Chris, que afirma que o pai não o odiava, apenas não o conhecia, e que um dia o amigo seria um grande escritor que poderia escrever sobre os quatro meninos se faltasse material. Com essa cena, compreendemos ainda melhor que a procura pelo corpo significava o enfrentamento da perda de Denny, a aceitação da morte mesmo quando se é tão jovem e o choro reprimido de quem sente uma dor tão forte. 

O filme já seria instigante se apresentasse essas duas linhas de interpretação para a questão da morte na narrativa, porém a trama ainda possui outra abordagem para trabalhar. A primeira sequência traz um homem sentado dentro do carro lendo a notícia de jornal sobre o asssassinato do advogado Chris Chambers. Do lado de fora, dois meninos andam de bicicleta e atraem a atenção do homem, que logo é conduzido a lembrar de sua infância. Conforme a

câmera se aproxima de seu rosto, a narração em voice over revela que este sujeito era o Gordie adulto retomando suas memórias de como foi a jornada em busca do corpo de Ray Brower a partir da descoberta da morte do seu melhor amigo. 

Nessa sequência inicial, a narração diz o seguinte: “Eu tinha 12 pra 13 anos a primeira vez que eu vi um ser humano morto.” Na cena seguinte, vemos Gordie aos 12 anos caminhando por Castle Rock enquanto a narração prossegue: “Isso foi no verão de 1959. Faz muito tempo, mas, claro, isso em número de anos. Eu morava em uma cidadezinha do Oregon chamada Castle Rock. A população era de apenas 1281 pessoas, mas, para mim, era o mundo inteiro”. Ele compra uma revista, anda pela cidade e vai em direção à casa da árvore, onde se encontra com seus amigos para dar início a sua aventura. 

Esta abertura se choca com a narração da volta para casa saindo da floresta. Nesse momento, escutamos: “Voltamos pra casa. E, embora muitos pensamentos tivessem passado por nossas cabeças, mal nos falamos, fomos caminhando pela madrugada e chegamos a Castle Rock um pouco depois das 5 horas da manhã de domingo, um dia antes do dia do trabalho. Só tínhamos ficado fora 2 dias, mas de alguma forma a cidade parecia diferente. Parecia menor”. A diferença se dá pela escala da percepção. Inicialmente, aquela pequena cidade parecia ser o único mundo possível para o protagonista, o que é alterado no retorno à casa com a compreensão de que sua vida pode deixar os limites de Castle Rock e conhecer novas pessoas. 

Nesse sentido, ampliar seu olhar e suas possibilidades pode ser a aceitação de que Gordie não precisa ficar para sempre na mesma cidade, seguir os mesmos caminhos dos amigos e atender a todas as expectativas do pai. Ao voltarem para Castle Rock, as despedidas dos amigos vêm acompanhadas pela narração que reconhece que nem sempre as amizades podem durar para sempre ou proporcionarem contatos frequentes e permanentes. Essa ideia aparece sob a forma da narração em voice over que diz: “À medida que o tempo passava, via cada vez menos o Teddy e o Vern. Até que no fim eles se tornaram apenas mais duas caras nos corredores. Às vezes, isso acontece. Os amigos entram e saem de nossas vidas como garçons em um restaurante”. 

Na mesma narração, Gordie adulto explica o que ocorreu na vida adulta de Teddy e Vern em termos familiares e profissionais. Ao mesmo tempo, o Gordie jovem caminha com Chris até a casa na árvore e os dois têm uma breve conversa sobre Chris não precisar se sentir preso àquela cidade porque poderia fazer o que quisesse. No instante em que Chris está indo embora, a narração reaparece, dessa vez, para explicar o que houve com ele até sua morte: Chris conseguiu sair, fez o colegial comigo e, embora tenha feito muito sacrifício, conseguiu o que queria como sempre, fez faculdade e se formou advogado. Na semana passada, ele entrou em um restaurante self-service, dois homens na frente dele começaram a discutir e um deles puxou uma faca. Chris, que sempre era da paz, tentou acabar com aquilo. Ele foi esfaqueado na garganta e morreu quase que instantaneamente”. Ao ouvirmos essa última frase, a figura de Chris desvanece. 

“Ele foi esfaqueado na garganta e morreu quase instantaneamente”. A frase é repetida e a imagem que surge é a da tela de um computador. Sendo assim, descobrimos que grande parte da narrativa de “Conta comigo” é a escrita de uma história do Gordie adulto sobre o tempo em que buscou o corpo de Ray Brower com Chris, Teddy e Vern. A escrita continua: “Embora já não o visse há mais de dez anos, eu sempre sentirei saudades dele. Nesse

momento, o personagem parece olhar para nós espectadores quando, na verdade, olha para a tela do computador e termina sua história: “Nunca mais tive amigos como aqueles que tive nos meus doze anos. Meu Deus, e alguém tem?”. 

A questão da morte pode ser abordada a partir da procura pelo cadáver de Ray Brower, do luto de Gordie com relação à perda de seu irmão mais velho e da simbologia em torno do fim de algumas relações interpessoais. Ao fim da jornada, alguns aprendizados podem ser obtidos. Entre os mais visíveis, estão a percepção de que encontrar um corpo não é uma aventura em busca de fama e de que morrer pode acontecer independentemente da idade e que as emoções em torno desse fato precisam ser externalizadas e trabalhadas. 

E o último aprendizado é aquele que envolve as amizades que construímos ao longo da vida, estas também sujeitas à “morte”. Porém, não em um sentido tradicional, pois Gordie até pode se recusar a imaginar um futuro sem os amigos e sofrer com a separação e as saudades. Ainda assim, a passagem do tempo pode ensinar que esta não é uma “morte” permanente, afinal sempre seremos marcados por experiências positivas do passado e poderemos lembrá-las acessando nossas memórias ou consultando uma história escrita no computador, um livro escrito por Stephen King ou um filme dirigido por Rob Reiner. 

E nada melhor que o ensinamento venha embalado ao som de “Stand by me”.

* professor de História, graduação e mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), doutorando em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquiso as relações entre História e Cinema a partir dos filmes brasileiros sobre a ditadura civil-militar. Crítico de cinema com especial interesse pelos filmes de terror