O gênero do horror é para mim aquele que melhor consegue discutir as questões sociais que vivemos na nossa sociedade. Recentemente vimos em obras como Midsommar (2019) e Homem Invisível (2020) às formas que o gênero consegue discutir questões de relacionamentos abusivos e demonstrar que muitas vezes o horror que mais apavora não é aquele que vem do monstro escondido no armário, mas sim aquele que pessoas reais causam a outras pessoas.

Na décima edição Cinefantasy temos o filme uruguaio “Na Pedreira” que é um suspense que trata exatamente desse horror, o dá violência de gênero. Na história vemos quatro pessoas que foram até uma pedreira para se divertir, entre elas estão o casal de namorados Alicia (Paula Silva) e Bruno (Augusto Gordilho) e os irmãos Tincho (Rafael Beltrán) e Tola (Luiz Pazos). Tudo estava indo bem até que Bruno e Tincho embarcam em uma rivalidade por conta do sentimento que os dois tem por Alicia, acabando com toda a harmonia do passeio. 

Por conta dessa rivalidade vemos o suspense crescer a cada segundo, observamos as coisas irem bem, mas sabemos que em algum momento aquela situação vai piorar e teremos um confronto entre os dois personagens. É interessante que mesmo que o clima durante as cenas estejam razoavelmente agradáveis sentimos a tensão no ar com as atitudes de Bruno e Tincho que a todo momento ficam se provocando e causando ferimentos “acidentais” um no outro a todo momento. O que vai aumentando gradualmente  a tensão durante o filme. São atitudes tóxicas em relação a personagem de Alicia e que com certeza você já presenciou ou ouviu falar em algum momento da vida.

Algo que é importante destacar é como a violência de gênero é representada no filme, assim como em muitas relações que vemos nosso dia a dia, na frente das pessoas e dos amigos o casal é feliz e carinhoso, saem juntos e até “comem sushi toda a sexta feira”. Mas quando estão longe da visão de outras pessoas a relação se transforma e vira algo parecido com uma prisão com torturas físicas e psicológicas. 

Filmes como “Na Pedreira” servem para nos mostrar que muitas vezes o verdadeiro horror para as pessoas não é o sobrenatural, não vem de uma maldição e nem de um assassino em série escondido à  espreita de uma vítima, mas sim de pessoas próximas e de quem elas menos esperam, é algo que muitas pessoas passam todos os dias, e esse é o pior horror de todos.