A Sombra do Pai é um filme de horror que discute relação de trabalho, relações familiares e luto.


De todos os filmes nacionais que foram lançados nos últimos 10 anos o meu preferido é, com certeza, Animal Cordial da Gabriela Amaral Almeida. Por gostar tanto desse filme eu não via a hora de assistir ao seu outro filme, A Sombra do Pai.

A história do filme é sobre Dalva (Nina Medeiros) que é uma criança órfã de mãe que morreu em um acidente, filha de Jorge, um pai que trabalha dia e noite como pedreiro, jornada de trabalho essa que atrapalha a sua relação de paternidade e acaba colocando Dalva em uma situação de responsável pela casa. O luto é presença constante na casa, seja para a filha, quanto para o pai e isso impacta diretamente na relação e na vida dos dois. 

Assim como em Animal Cordial, as relações de trabalho expostas no filme são extremamente importantes e trazem discussões pertinentes nos dias de hoje. A relação patrão e empregado, a recusa da individualidade e a perda da humanidade do trabalhador que o transforma apenas em força de trabalho é retratado de forma magistral durante todo o filme. 

Além disso, também é demonstrando o quanto a exploração do trabalho interfere diretamente nas relações individuais e o quanto isso afeta a vida dos trabalhadores e da sua família. Ao mesmo tempo em que demonstra como a rotina imposta pelo capital impacta diretamente a vida das pessoas, não só dentro do trabalho, onde os trabalhadores se vêem obrigados a reprimirem seus sentimentos e apenas trabalhar, como também em casa, imersos na rotina de trabalho, não conseguem mais se ver como indivíduos e vivem apenas para produzir e cumprir seu papel dentro da sociedade capitalista. Tudo isso faz com que o pai de Dalva negligêncie sua função de pai, não ajudando-a superar a perda de sua mãe. 

As questões de superação do luto no filme é tratada de uma forma bem semelhante e referencial a como Stephen King retratou em 1983 com seu livro O Cemitério e que posteriormente no ano de 1989 virou filme com o título Cemitério Maldito. Mas, a referência não acontece de forma gratuita e sem contexto, e sim ligada diretamente à história e com o desenvolvimento dos personagens. 

Com uma boa história que é coerente do início ao fim, discussões relevantes sobre a sociedade brasileira, e uma direção extremamente competente, A Sombra do Pai é um filme que merece ser visto e discutido. Gabriela Amaral Almeida é para mim uma das maiores expressões do que há de melhor no cinema brasileiro dos últimos tempos.