Jheinny Araujo*
Filme japonês realizado em 2014, o qual foi escrito por Hiroyuki Yatsu e dirigido pelo aclamado diretor Takashi Miike, o “queridinho” do cinema de Horror e Gore nipônico. “As The Gods Will” é um inovador filme de horror japonês, infelizmente, pouco conhecido, mas esteticamente perfeito utilizando artifícios e brincadeiras da cultura japonesa em suas cenas de morte como na cena de um Meneki neko gigantesco correndo atrás dos alunos para devorá-los entre outras brincadeiras japonesas que aparecem durante o longa com uma atmosfera muito bem criada , conta também com um roteiro impecável. Fatos que fazem com que eu me indague do por que de esse filme ser tão pouco comentado nos dias atuais.
Sob esse pretexto, talvez muitas pessoas não saibam como esse filme foi influenciador nos tempos atuais e uma obra que com certeza estava muito à frente de seu tempo. A partir disso, o filme se idealizou com uma proposta bastante inovadora que bebeu da fonte de um dos grandes clássicos do cinema japonês “Batlle Royalle”, filme de “Thriller/Ação” lançado em 2000 e dirigido por Kinji Fukasaku. Filme esse, que talvez seja um dos maiores influenciadores de cultura pop na era recente. Sendo sua ideia presente em diversos obras e mídias que vimos hoje em dia e que também, como já mencionado, serviu de inspiração para a concepção e idealização desse outro grande clássico da filmografia de Takashi Miike. Desse modo, a grande verdade é que esses filmes conseguem explorar uma ideia que é quase impossível de resistir: jovens batalhando pela vida em um jogo macabro. É meio difícil explicar o porquê isso traz tanta curiosidade, pode ser pelo sadismo do ser humano ou pela curiosidade de ver jogos que levam ao extremo. O fato é que “As The Gods Will” leva essa ideia de um jogo de sobrevivência para outro patamar.
Com um começo mais que intrigante onde apresenta um Daruma san que aparece em uma sala de aula e começa um jogo em que cada aluno que se mexer tem a cabeça explodida, fazendo assim com que os alunos se juntem para pensar em uma solução para terminar o jogo , o filme desde já dá o tom que vai ter e mostra ao telespectador o que esperar pela frente, um jogo brutal com bastante sangue. Mas em nenhum momento chega a um gore típico de Takeshi Miike e esse, diferente de muitos filmes do diretor, é uma obra que até recebe bastante censura de acordo com o padrão Takashi Miike. Até mesmo o típico sangue é censurado, mas em nenhum momento isso interfere na qualidade do filme para mim, até porque o foco não é a violência ou o gore, mas sim qual atitude os protagonistas vão tomar para sair de tal situação.
Mas o que faz desse filme um clássico japonês, em que já deixei bem clara minha admiração por ele ser um jogo “battle royalle” e a direção desse filme também é uma das minhas coisas favoritas nele. Mas eu acho que o que mais me faz gostar dele é como ele tem um tom de inovador. Quando eu assisti pela primeira vez, achei tudo aquilo tão novo, até por que na época em que ele foi lançado ainda não era tão popular esse estilo de “survival” como é hoje na maioria dos jogos, em filmes como a The Hunt, e talvez a que mais tenha se inspirado no filme e a atual série coreana da “Netflix” que explodiu, “Round 6”. No entanto, se são obras semelhantes, por que “As The Gods Will” não teve tanto reconhecimento como “Round 6” nos dias de hoje? Claro que a época de lançamento e distribuição são fatores que contribuirão para isso, mas acredito que “Round 6” também trouxe um fator de realismo para a obra e acho que é mais fácil acreditar que pessoas estão dispostas a morrer por dinheiro do que a ideia de que Deuses escolheram adolescentes para serem testados em um jogo mortal.
Umas das qualidades do filme são os efeitos especiais e a trilha sonora. A trilha sonora é inacreditável, misturando músicas tocadas com instrumentos japoneses tradicionais com músicas de ação crescente em muitos jogos que te deixam na ponta da cadeira com a incerteza de se eles realmente vão conseguir sair todos vivos ou se vão descobrir como parar o jogo, e claro, cada mestre de jogo que precisa ser derrotado tem sua própria musiquinha que chega até a ser um pouco infantil que, combinado a matança que está acontecendo, deixa as cenas com um tom mais assustador. Os efeitos especiais funcionam bastante para mim até hoje e muitas vezes os jogos são comandados por animais gigantes, como o gato no segundo jogo e o urso em outro dos jogos. Para filmes japoneses não tão atuais, esse filme se mostra com muito cuidado na hora do CGI e, mesmo com um orçamento que, claro, não é uma produção Hollywoodiana, se mostra bastante capaz com os recursos que tem e sempre sendo imersivo e com o design dos animais ou monstros que nos apresentam bastante instigantes. A cena do “Daruma-san” é simplesmente um trabalho incrível da produção, desde o momento que nos é apresentado o “Daruma-san”, surgindo explodindo a cabeça do professor da sala em uma cena muito bem feita e uma qualidade que até pode cair em alguns momentos do filmes, mas que nunca chega a ser um problema no filme.
No filme fica bem claro a diferença de pensamento nos personagens do Amaya e do Shun, onde o Shun tenta salvar o máximo de vidas possível e em cada jogo reza para que os Deuses parem, e em contrapartida, Amaya, que acredita que é o desejo dos Deuses que os mais fortes sobrevivam e os mais fracos morram “como a cadeia alimentar tem que ser”, e essa rivalidade se estende até o final do filme, onde eles terão que jogar um contra o outro e Shun finalmente percebe que essa é a vontade dos Deuses.
De modo geral, é um filme divertido para quem gosta de uma boa dose de gore, mas não é nada fora do comum e do que já se é visto nos dias de hoje. É uma obra que merecia um pouco mais de reconhecimento, até mesmo pela proposta que apresenta e pela competência que o filme tem. Muita gente pode criticar as atuações por exemplo, mas na experiência que eu tive com o filme, elas não comprometeram em nada, então não acho que seja um grande ponto negativo, até por que o filme é tão fluído e indo de um jogo para outro tão rápido, mas sem ser corrido, que é difícil se desligar do filme e ficar pensando sobre as atuações. É com certeza um filme intrigante e que me surpreende de que poucas pessoas tenham conhecimento. No entanto, é amado por um número seleto de pessoas, sejam por ser realmente um filme marcante ou pelo amor ao diretor que talvez seja um dos grandes nomes do cinema japonês e idolatrado por ter uma filmografia completamente fora da curva e que, muitas vezes não agrada a todos, mas que com certeza tem filmes bastante importantes para o cinema asiático e em que eu acredito que “As The Gods Will” se encaixe perfeitamente nesse posto.
*Jheinny Araujo, natural de Manaus, formada em critica de cinema pela academia internacional de cinema (AIC) em 2021 e estudante bacharel em criminologia, 20 anos e apaixonada por horror asiático e terror em geral, principalmente clássicos slasher.