Em 01 de Abril de 1964 o Brasil tomou um golpe. Muitos dizem que foi um golpe militar, outros gostam de atribuir também a participação da sociedade nisso, aí chamam o que sucedeu de “ditadura civil-militar”. É importante compreender o sentido e significado de como as coisas e os eventos históricos são chamados, normalmente isso reflete a visão que essa pessoa tem daquele evento histórico.

Todo esse breve contexto histórico foi para falarmos um pouco do curta do nosso querido (chamo assim pois além de ser redator aqui no site é um dos integrantes do podcast) Matheus Maltempi, o filme “Obscura” que se passa em 1985, ano oficial do fim do regime civil-militar. Em resumo o curta conta uma história de um fotógrafo, Henrique Ferraz (Rodrigo Bolzan) que não mede esforços para crescer e também não se importa com questões éticas da sua profissão, faz o que precisa para atingir os seus objetivos. Essa postura faz dele um aliado para os mais sujos políticos que o procuram para encontrar podre de inimigos. O que eles vão fazer com os materiais fornecidos por Henrique? Pouco importa, ele só quer o pagamento. Nesse ponto da a entender que em algum sentido Henrique tem e teve uma certa importância para o regime ditatorial e que ele faturou com isso as atrocidades cometidas pelos militares ou dos civis que apoiavam a ditadura. Ao mesmo tempo que podemos supor isso, o personagem de Rodrigo é apresentado como uma pessoa sem moral, cujo o único e verdadeiro motivo que condiciona a sua vida é o dinheiro e uma busca por inflar o seu próprio ego.

A história pessoal de Henrique parece estar cheia de casos onde ele se utilizou de pessoas, conseguiu o que queria e isso acabou resultando na morte de alguém. Assim conhecemos Laura Sorridente (Alessandra Mata) e Jota (Bruno Mariani) que vem do além para punir Henrique pelo que ele fez ou ajudou a fazer. Essa punição acontece pela falta de responsabilidade aliada a ganância que prejudicaram ou levaram pessoas a morte.

Alessandra está incrível no papel de Laura Sorridente. Ela consegue demonstrar uma loucura e uma insanidade que dá arrepios só de olhar. Inclusive, nem era necessário falar que ela não era desse mundo, só o fato da forma que ela atuou, os olhares e sorrisos já eram necessários para nos deixar angustiados e completamente incomodados.

“Obscura” se utiliza das melhores ferramentas do cinema de gênero para fazer um filme sobre vingança. E o melhor, não cai no erro de torturar a personagem em cena para nos fazer compadecer dela. A identificação com a personagem se dá de outra maneira, de forma mais narrativa do que visual.

O curta pode ser visto na programação do Festival POE que acontece na Darkflix até o dia 30 de abril de 2021.