O Pássaro das Plumas de Cristal (1970) é o longa de estreia do diretor italiano Dario Argento, e é também o primeiro filme de sua nomeada “trilogia dos animais”, em que animais são pistas principais para a resolução dos mistérios. Este filme é de extrema importância para o giallo, pois foi por conta de seu enorme sucesso que mais filmes do estilo passaram a ser produzidos.

Giallo significa “amarelo” em italiano, e o subgênero de horror recebeu esse nome por conta dos livros policiais que inspiraram os filmes, muitos possuíam capas amarelas. Assassinatos em séries, sendo mulheres geralmente as vítimas, uma figura misteriosa que muitas vezes utiliza um figurino marcante, cenários extravagantes e cenas violentas são algumas  de suas características.

Durante 96 minutos, acompanhamos o escritor estadunidense Sam Dalmas (Tony Musante) que está passando um tempo na Itália com sua namorada, a modelo Giulia (Suzy Kendall). Certa noite, o homem passa em frente a uma galeria de arte e testemunha a tentativa de assassinato contra Monica (Eva Renzi), que teria sido a quarta vítima de uma série de homicídios contra mulheres.

Na época de lançamento do filme, o mundo já havia prestigiado grandes obras de suspense e mistério como as de Mario Bava, na Itália, e Hitchcock, nos Estados Unidos, diretores dos quais também vemos referências claras em O Pássaro das Plumas de Cristal, como na cena em que um homem está prestes a cair de uma janela, que nos remete imediatamente a Um Corpo que Cai (1958), tanto pela situação, quanto pela maneira que é filmada. Porém, Argento já demonstra grandes habilidades aqui em seu primeiro trabalho, ao transformar uma história que poderia facilmente ter caído no clichê, em um longa instigante e elétrico.

A câmera de Vittorio Storaro (Apocalipse Now, O Último Imperador), sempre atenta, com movimentos sintonizados com a energia do filme, por vezes mostrando o ponto de vista do assassino, unida a uma excelente trilha sonora realizada pelo gênio Ennio Morricone (Cinema Paradiso, Era uma Vez na América), presente nos momentos certos para compor o suspense, contribuem satisfatoriamente para gerar tensão. O trabalho sofisticado da direção de arte e as cores vivas, que veremos chegar em seu auge na obra-prima Suspiria (1977), são também aspectos que trazem a autoria para a obra de Argento.

Ainda que compreensíveis para um trabalho de estreia, o enredo conta com algumas falhas, como o fato de que Sam é o principal suspeito da investigação, mas os policiais contam tudo para ele, ou ainda, e talvez mais absurdo: quem descobre sobre uma ave rara não é o protagonista, que estuda sobre elas, mas um colega que surge de repente para ajudar.

Com todos os acertos e erros, é sempre intrigante assistir aos clássicos que deram os primeiros passos, para que possamos entender a jornada do cinema até chegar aos contemporâneos que são tão adorados. Descobrir a origem de inúmeras referências que são realizadas hoje, como por exemplo, o momento em que um personagem fugitivo se mistura no meio de uma sala onde todos estão vestindo a mesma roupa, e saber que você está assistindo a uma das primeiras vezes em que isso foi feito, é uma experiência fascinante.