Em 1978, John Carpenter lançou um filme que se tornaria o pai de uma das maiores franquias do cinema de horror: Halloween. Desde então, o longa teve inúmeros remakes e reboots. Recentemente, dois novos filmes foram lançados: Halloween (2018), e Halloween Kills (2021), ambos dando continuidade à história original e desconsiderando as demais sequências realizadas. O último dos filmes dessa nova trilogia, intitulado Halloween Ends, tem data de estreia prevista para outubro de 2022.

Halloween Kills, o mais recente, teve sua estreia há apenas alguns dias, em 14 de outubro, e desde então vem recebendo uma grande visibilidade do público – principalmente nas redes sociais. E de fato, há motivo para tanto hype. A começar pelo fato de que seu antecessor foi um sucesso, tanto em crítica, quanto em bilheteria, o que acabou por impulsionar uma expectativa para o segundo filme. Além disso, quando se lança um slasher em pleno mês de outubro, época considerada perfeita para maratonar filmes de terror, é de se esperar que este acabe por ter uma grande visibilidade.

Para muitos, assim como eu, o filme não foi capaz de suprir as altas expectativas causadas pelo longa de 2018. Um dos principais pontos a serem apontados é o de que, por mais que a trama esteja diretamente ligada aos acontecimentos do Halloween de 1978, o excesso de flashbacks acaba por contextualizar a trama mais do que resolvê-la. Com isso, tende a se apoiar excessivamente naquilo que todos conhecemos. Esse apoio não é exatamente ruim, já que facilita o entendimento para alguém que caiu de paraquedas e não sabe do que se trata. Contudo, torna-se maçante para alguém que já sabe a velha história de Michael Myers, que aos 6 anos assassinou a irmã no Halloween.


Uma das primeiras perguntas que fiz a mim mesma ao assistir o filme no cinema foi: Quando todos batem na mesma tecla tantas vezes, contando a mesma história repetidamente por 40 anos, pode-se afirmar que todos da cidade já saberão exatamente como agir diante da volta iminente de Michael Myers a Haddonfield, certo?

Errado. Os habitantes da cidade, liderados por Tommy Doyle, um dos sobreviventes do primeiro filme, reúnem-se em um complô para tentar assassinar o bicho-papão e “acabar com o mal”. Isso parece uma boa ideia, dado o fato de que estavam em maior quantidade e, em teoria, poderiam acabar facilmente com o vilão. Tudo parece ir por água abaixo, porém, quando todos acabam por falar mais do que fazer, se perdendo muito em frases de efeito, discursos marcantes e decisões tomadas de maneira irracional – coisa que acontece mais do que deveria no longa.

Além do mais, este é, sem sombra de dúvida, o mais sangrento da franquia. O filme traz tanta violência que seria possível fazer um drinking game dele – a cada morte, uma dose. E isso não é exagero, já que o recém lançado detém o recorde de maior quantidade de mortos da franquia, e vale lembrar também que nem todas foram causadas por Michael. Mas, para que isso fosse possível, foram criados inúmeros personagens inúteis, cujo único objetivo era apenas ser mais uma vítima. O filme passa tanto tempo explorando essas subtramas que se perde no que supostamente seria seu real propósito: matar ou prender Michael Myers.


Mas nem só de clichês de filmes de terror vive o homem. Halloween Kills teve muitos acertos também. A trilha sonora, que nunca decepciona, ficou por conta do criador da franquia, John Carpenter. Ela é, definitivamente, um dos pontos mais altos do longa, juntamente com a fotografia, realizada por Michael Simmonds.

No elenco, além de Jamie Lee Curtis, Judy Greer e Andi Matichak reprisando seus papéis, personagens que tiveram participação no caos do primeiro filme também foram trazidos à tona – o que é uma ótima ideia, já que isso agrega maior teor nostálgico à obra e aumenta as teorias de que talvez essa linha do tempo seja de fato canônica. Marion Chambers (Nancy Stephens) e Lindsey Wallace (Kyle Richards) foram interpretadas pelas mesmas atrizes que deram vida a elas no longa original, enquanto Tommy Doyle e Lonnie Elam foram interpretados, respectivamente, por Anthony Michael Hall e Robert Longstreet.

Tê-los novamente na história foi interessante – e aqui peço desculpas pelo spoiler – e cruel ao mesmo tempo, pois os trouxeram de volta apenas para que tomassem decisões irracionais e morressem. Enquanto Lindsey tornou-se a ‘final girl’ do grupo, Lonnie, Tommy e Marion não tiveram a mesma sorte. Suas mortes, porém, fizeram um paralelo com seus maiores medos e situações já ocorridas, todos retratados no longa original de 1978, dando ao espectador o gostinho bom de entender a referência. Apesar de triste, tais atos também fazem o filme se tornar mais interessante, por causar aquele choque que te deixa pensando “Não, eles não fariam isso no segundo filme”. Alerta de spoiler: sim, eles fariam.

Em suma, com todos os seus erros e acertos, com todos os gritos, mortes e com todo o caos instaurado, Halloween Kills está preparando o terreno para seu sucessor. A expectativa para o próximo filme continua alta, na espera de que ele acabe por arrumar tudo o que este desarrumou. Nos resta apenas aguardar para ver qual será o fim dessa história sanguinolenta, ou melhor, se haverá um fim para essa história.