Arriscando-se em uma linha de entretenimento que geralmente não dá muito certo no meio televisivo, a Netflix ousou em julho de 2017 ao anunciar uma série baseada no famoso jogo da Konami: Castlevania.

Ambientada no ano de 1476 e tendo como referência o jogo Castlevania III: Dracula’s Curse, essa adaptação da franquia alcançou enorme sucesso, apresentando quatro tímidos episódios, que conseguiram dar vida ao icônico vilão Drácula, construindo, com minúcia, os propósitos e motivações que levam este a planejar o extermínio da humanidade. Tendo em contrapartida o protagonismo de Trevor Belmont e as figuras marcantes dos jogos, Syphar Belnades e Alucard, a série consegue transparecer o carisma destes três personagens distintos, criando com naturalidade a relação do trio e o conjunto de suas habilidades contra as criaturas da noite.

Possuindo um plano de fundo religioso, principalmente no período da inquisição da Igreja, a série entrega uma trama adulta, bem elaborada e recheadas de lutas belíssimas e traços suaves que agradaram os fãs. Amarrando com cuidado todos os pormenores que apresentam na narrativa, o seriado desenvolve com facilidade os personagens apresentados, ditando um ótimo ritmo aos episódios, culminando em um clímax satisfatório e aberto a possibilidades de continuações.

Pouco tempos depois, devido ao enorme sucesso e ao clamor do público, uma segunda temporada foi anunciada, trazendo em 26 de outubro de 2018 mais oito episódios de mesma duração. Dando continuidade aos eventos que sucederam na primeira temporada, essa nova empreitada divide o público ao apresentar uma história mais contida, complementada com a inserção de personagens rasos e poucos momentos de ação.

Intercalada entre episódios de ação forçados e embates estratégico e filosóficos sem o devido aprofundamento, o seriado perde força ao apresentar cenas arrastadas e que não demonstram propósito direto a narrativa. Tramitando entre duas jornadas destoantes, a trama avança de maneira lenta, dividindo a tela entre componentes que remetem aos jogos clássicos e uma narrativa que tenta implementar novos elementos a mitologia da série.

Acelerando o ritmo da narrativa nos capítulos finais, a série consegue ganhar fôlego, apresentando uma luta final satisfatória entre Alucard e Drácula, gerando um conflito brutal e sanguinário entre esses dois personagens que possuem ideologias diferentes, mas que carregam no sangue traços familiares.

Terminando em final aberto sobre os rumos dos personagens a terceira temporada chega ao público em 5 de março de 2020, trazendo em sua composição uma misto de incerteza e dúvida sobre os caminhos que a série tomaria.

Possuindo dez episódios de vinte minutos cada, a trama é estruturada em quatro núcleos diferentes, tendo como plano de fundo o vácuo de poder deixado entre a batalha de Drácula e Alucard. Implementando uma história mais contida, a série divide a tela entre momentos de calmaria e constante tensão, abrindo brechas para formular diálogos mais elaborados, criticando principalmente a religião e o comportamento humano. As batalhas, que são o grande destaque da obra, voltaram com novo fôlego, sendo inseridas em momentos propícios dos episódios, esbanjando da violência e brutalidade que marcaram a primeira temporada.

A escolha de contar essa temporada em dez episódios ajudou a balancear bem a estrutura narrativa, desenvolvendo de forma harmônica os personagens antigos e permitindo espaço para a introdução de novas figuras secundárias da história. Apresentando o antagonismo na figura de Carmilla e suas irmãs Morana, Striga e Lenore, a série demonstra competência e firmeza nas decisões que optou na temporada anterior, conseguindo manter a atenção do público, mesmo sem a presença de seu vilão principal.

Criando um intrincado jogo político e um misterioso clima de suspense, o seriado encerra sua terceira temporada de forma gratificante, ajustando as peças no tabuleiro para uma promissora quarta temporada e reacendendo o interesse dos fãs para os próximos episódios que virão.