Em um diálogo de “Bela Vingança”, na última parte do filme, um personagem diz que um dos maiores medos de um homem é ser atrelado a uma acusação de assédio. Cassandra, protagonista do filme, pergunta se ele sabe qual é o maior medo de uma mulher. Esse pequeno diálogo, de quatro frases, mais ou menos, demonstra um dos perigos que as mulheres passam na sociedade em que vivemos. 

Quando li a sinopse de “Bela Vingança” fiquei curioso para ver o filme. Em resumo, temos a história de uma mulher que decide se vingar de todos os homens que abusam de mulheres vulneráveis em bares da cidade. Ela fica se fazendo de bêbada até que um dos homens do bar se prontifica a levá-la para casa, e todos os homens que a levam para a casa, no final, tentam de alguma forma abusar de Cassandra. 

Na primeira cena em que vemos Cassandra em ação ficamos na dúvida sobre o que ela realmente faz com esses homens. Se ela mata ou faz qualquer outra coisa. Mais para frente descobrimos que ela coloca um medo nesses homens para que eles não tentem abusar novamente de outra mulher. 

A motivação dela é uma denúncia de algo muito grave que acontece não só nos Estados Unidos, como em muitos outros países, inclusive o Brasil: as motivações dela são fruto de um trauma envolvendo abusos sexuais ocorridos em universidades, como também a total falta de responsabilização dos abusadores. Há um diálogo de Cassandra com um dos advogados responsáveis por defender os homens que cometem abuso sexual, onde ele expõe todo o mecanismo de defesa dos abusadores. Incluindo pessoas que são pagas apenas para procurar fotos ou informações comprometedoras da vítima para, de alguma forma, constrangê-las em um tribunal. 

Todos os debates que o filme trás são relevantes para a sociedade que vivemos hoje, e só por isso a diretora Emerald Fennell já merece todo o reconhecimento que o filme está levando. Mas, há algo que me incomodou e atrapalhou toda a minha experiência com ele, que foi o final do filme. Fica nítido que a diretora busca demonstrar o quanto o problema é muito maior, que é estrutural, que há uma espécie de mecanismo que hora se apresenta nitidamente e hora se apresenta de forma velada, de defender e fazer com que esses homens saiam impunes. No entanto, o fim da jornada de Cassandra é trágico, tão trágico que tira toda a satisfação que teríamos com o desfecho da história. 

“Bela Vingança” é um filme que tem seus méritos, é importante nas discussões, é importante pelo que representa, é importante por trazer mais debates como essas dentro do cinema de horror, mas que infelizmente não consegue encerrar bem a sua história. É uma pena.