Matheus Maltempi*

É comum no cinema grandes franquias sempre retornarem às telas em diversos formatos, seja por um reboot, remake ou sequência. É importante comercialmente falando, pois, é mais “fácil” atingir o público com algo que já agradou e também é importante fidelizar e introduzir novas pessoas para os clássicos, criar esse interesse é um jeito de se construir uma formação de público para determinado gênero ou subgênero.

As linhas entre esses três estilos de “retornos” têm se tornado muito tênue, visto que alguns filmes estão surgindo como sequências, remakes e reboot ao mesmo tempo, como o caso de Halloween (2018) de David Gordon Green, pois ele é uma sequência do original de 1978. Ao mesmo tempo em que ele reinicia a franquia excluindo os outros sete filmes que sequenciaram o primeiro, ou seja “reboota”, e recria/refaz os acontecimentos do massacre original com novos personagens na mesma cidade – Haddonfield. 

Pânico em 1996 surge como uma franquia metalinguística, do subgênero slasher, que comenta e critica a produção de horror, principalmente do subgênero em que ela se insere, da época. Dirigida por Wes Craven e escrita por Kevin Williamson, foi um sucesso estrondoso e o assassino Ghostface perseguiu a final girl Sidney (Neve Campbell) por cinco filmes, apesar de no quinto filme a querida personagem do público passar o bastão para uma nova geração. 

Como dito anteriormente, Pânico é uma franquia criada para comentar a produção de terror e assim como o quarto filme focou nas novas regras dos anos 2000 e a violência gráfica do terror moderno, o quinto filme brinca com a questão de reboot, remake e sequência.

Pânico 5 é uma sequência, ele leva em consideração tudo que aconteceu nos últimos quatro filmes, porém ele introduz um novo grupo de personagens, mais importante duas novas personagens protagonistas, Sam Carpenter (Sim, temos aqui uma brincadeira com o nome de John Carpenter) interpretada por Melissa Barrera e Tara Carpenter interpretada por Jenna Ortega. O primeiro ponto importante é que as duas são meia irmãs, e é descoberto que Sam é filha de Billy Loomis (Skeet Ulrich), o assassino original do primeiro filme. 

No quinto filme os personagens novos são os protagonistas e os personagens legado (como são chamados no próprio filme) assumem lugar de apoio, Sidney, Dewey (David Arquette) e Gale (Courteney Cox) ajudam as protagonistas a se livrarem de Ghostface ensinando o que aprenderam e sutilmente vão entregando seus lugares aos novos personagens, inclusive Dewey é morto pelo novo Ghostface. 

Perceba que um reboot no sentido mais puro do termo é o ato de reiniciar uma franquia do zero com alguns elementos familiares, porém isso é feito antes de produzir o filme, e a versão final é apresentada já pronta a partir desta nova imaginação daquela história, entretanto em Pânico 5, o reboot é feito enquanto o filme ocorre, pela própria narrativa que vai dando, naturalmente, lugar para a nova dupla de protagonistas. 

E neste caso é ainda mais inteligente, porque antes acompanhamos a família Prescott, mas agora acompanharemos a filha de Loomis, o assassino clássico de Pânico, e o roteiro cria para Samantha um trauma de não querer ser como seu pai, mas ela também tem os impulsos de um Ghostface, o que traz um novo ar para a franquia de “será que estamos vendo a construção de uma assassina e não de uma final girl?”

Mas onde está o remake em Pânico 5? Na trama, os novos Ghostfaces são fãs incondicionais do primeiro “Facada”, franquia de filmes fictícias da história de Pânico, e querem recriar a história do primeiro filme que também é a mesma do primeiro Pânico. Portanto, os Ghostfaces estão fazendo um remake de Facada 1 em Pânico 5, que também serve como uma espécie de remake de Pânico 1. 

Por isso, o filme se passa novamente em Woodsboro e os assassinatos culminam na casa de Stu Marcher (Matthew Lillard) (o segundo assassino de Pânico 1), onde o primeiro filme também acaba.  Por conta de um Ghostface obsessivo com os assassinatos da franquia, a própria narrativa de Pânico 5 se torna um remake de Pânico 1, revivendo momentos e lugares que foram clássicos para a franquia, mas ao mesmo tempo trazendo novidades com o novo grupo de personagens. 

O roteiro de Pânico 5 traz nele mesmo as três coisas: a sequência, o remake e o reboot, muito importantes para que a franquia continue existindo e se renovando, visto que ela já estava no seu quinto filme, então precisaria de um pouco mais do que nostalgia e um Ghostface perseguindo a Sidney, que já se provou mais do que capaz de enfrentar o assassino. Pânico é uma franquia que acompanha o gênero de horror, ela está inerente à ele, ou seja, enquanto o gênero existir filmes da franquia Pânico continuarão sendo feitos, para comentar, criticar e até mesmo tirar sarro, englobando todas as mudanças que o terror traz para o gênero com o passar dos anos.

Pânico 6 termina o que o 5 começou, ou seja, ele faz o reboot da franquia por completo, pois Gale e Kirby (Hayden Panettiere) são as únicas personagens legado que retornam e são apenas um suporte para a dupla de protagonistas Sam e Tara. Sidney finalmente é aposentada e muito justo, ela já lutou demais e o roteiro do filme funciona sem ela, de forma que a personagem ficaria deslocada caso retornasse e não seria justo com o legado dela ser morta, então ter ficado feliz com a família é o que essa guerreira merece. O sexto filme da franquia também revisa todos os outros cinco filmes por uma última vez e deixa um gancho para o futuro, que promete-se ser apenas de novidades agora, com a nostalgia ficando para o passado.

O sexto Pânico inova em seu início, dá o bastão de vez para Sam e Tara, e mostra que a franquia ainda tem muito o que mostrar nesta nova fase, o mais interessante disso tudo foi como souberam usar da ferramenta de Remake/Reboot/Sequência, no lugar de simplesmente acabar com tudo, fizeram isso dentro dos dois filmes, e respeitaram a memória de Wes Craven. Agora as expectativas ficam com o sétimo filme da franquia, que promete as novidades que o 6 deixou em aberto, e este sim será somente uma sequência, porque o reboot de Pânico já foi feito.

 

*Matheus Maltempi, formado em Comunicação Social – Midialogia pela UNICAMP, é pesquisador de cinema de horror, diretor, roteirista e produtor cultural. Atualmente é mestrando do programa de multimeios da UNICAMP com uma pesquisa sobre a produção de filmes de horror brasileiros contemporâneos. Dirigiu, produziu e escreveu curtas metragens de horror intitulados, Filho da Lua, Obscura e Às Vezes Ela Volta, o último parte do longa Antologia da Pandemia.